quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Eye of the tiger ♪






Ah, o Irã...

Quando o Irã aparece nas mídias, via de regra é sobre ameaça terrorista, rixa com Israel ou com os EUA, conflitos internos, violação aos direitos das mulheres...
A gente acaba acreditando que os iranianos são todos uns religiosos extremistas e alienados que vivem gritando e brigando uns com os outros.
Ah... o Irã não é só isso. O Irã tem gente visionária interessada em mudar a realidade do seu país, tem Pasárgada1 (onde o Manuel Bandeira é amigo do rei, onde ele terá a mulher quiser, na cama que escolherá...) tem petróleo e tem ... ~BONS QUADRINHOS~ !!
A HQ Persepolis de Marjane Satrapi, é um sucesso há mais de seis anos. Ganhou prêmios em feiras de comics, depois angariou o laurel de melhor história em quadrinhos na Feira de Frankfurt.em 2004 (o que não é comum para um quadrinho que ganha prêmio em feira de comics). E o sucesso foi tanto, que a Sony decidiu transformar o quadrinho em filme de animação e este também recebeu diversos prêmios, inclusive o Prêmio do Júri no Festival de Cannes (outro incomum: um quadrinho que virou desenho ganhando prêmio em Cannes).
Persépolis é autobiográfico e relata a infância e a adolescência da autora, no Irã dos anos 80, em meio à revolução xiita (guerra entre o Irã e o Iraque) que impulsionou a ditatura fundamentalista no país.
O relato dela é incrível! ela conta parte da história do seu país sem ser chata, acadêmica ou formal e quebra vários paradigmas sobre a nossa visão da cultura oriental, posto que, ela foi uma adolescente como tantas outras no mundo, em busca de autoconhecimento e oprimida pelo meio em que vivia.
Marji era uma menina muito esperta e amada pelos seus pais e pela sua avó. Era fã de Bruce Lee e tudo o que queria era usar um tênis Nike, depilar as pernas e poder escutar Iron Maiden, porém, vivia em uma sociedade em que as meninas tinham que se cobrir dos pés a cabeça, não podiam namorar e nem utilizar coisas que lembrassem a cultura ocidental. No final ela sofre com a morte de pessoas queridas na revolução e sofre também quando saí do país para poder se tornar uma mulher livre e emancipada, mas supera tudo isso e samba na cara da sociedade ao som de “eye of the tiger”
Além do Irã que acaba sendo um “personagem oculto”, a história abrange também outros temas, como: crescimento pessoal, liberdade, amores, ilusões, raízes, comprometimento, lealdade, etc. E tem uma pitada de feminismo, mas sem a pretensão de ter.
Em suma: ao mesmo tempo que ela se assemelha por ser uma típica adolescente, ela se diferencia por causa da cultura, o que permite ao leitor se identificar com ela e se indignar com o que ela passa ao mesmo tempo.
Ano passado, foi lançada a graphic novel “O Paraíso de Zahra” escrita por Amir e ilustrada por Khalil que inicialmente publicaram-na em um blog, com tradução para vários idiomas antes comercializar a versão impressa.
O contexto político é importante para entender a origem de O Paraíso de Zahra, por isso eu acho interessante ler a obra da Marjane antes, porque Persépolis têm como pano de fundo a revolução de 1979, que estabeleceu a atual república islâmica e O Paraíso de Zahra – apesar de ficcional- relata a real insatisfação do povo iraniano após 30 anos deste regime, mostrando que eles chegaram ao limite, anseiam por mudanças e estão se preparando para lutar por ela.
A história é narradora por Hassan, que junto com sua mãe Zahra, está em busca de seu irmão Mehdi, um jovem de 19 anos que sumiu durante um dos protestos contra as eleições presidenciais do Irã. Esta busca desesperada é relatada num blog, o "Paraíso de Zahra" ou “Zahra's Paradise” (que também é o nome de um cemitério próximo à cidade de Teerã, um dos principais do país).
O protesto em questão é aquele ocorrido em 2009, onde Aiatolá Ali Khamenei valida a eleição de Mahmoud Ahmadinejad, mesmo sob sérias acusações de fraude, incluindo a dos órgãos internacionais que fiscalizaram as eleições. Neste dia, milhares de pessoas foram presas, muitas nunca mais foram vistas, outras foram mortas e tudo isso foi divulgado para o mundo viaTwitter e YouTube.
No enredo da história vemos rapidamente a morte de uma jovem chamada Neda, que faleceu durante os protestos. Ao final da HQ há um texto que explica a história real dessa moça, cuja agonia e morte foram gravadas de um celular, o vídeo foi postado no youtube e tornou-se um viral na internet .
O poder da divulgação em rede foi magistralmente relatado na obra. Estas manifestações contra as eleições de 2009 foram massivamente documentadas e pode ter evitado algumas mortes.

Conclusão: Hqs iranianianas são uma coisa linda de Alá.

Conclusão parte II: as vezes a gente vê as coisas que acontecem no Oriente Médio e pensa “que bom que essas coisas não acontecem aqui”, “que bom que somos um país livre” “por mais que a situação esteja ruim, pelo menos no nosso país não temos que usar burca e podemos assistir o que quiser na TV”
Claro que temos sorte por vivermos num país tranquilo e parcimonioso e não passarmos por certas coisas, mas, por outro lado, talvez na nossa maior qualidade resida nosso maior defeito.
O brasileiro é adaptável demais, para o bem e para o mal.
Diferente dos iranianos, que, quando precisam defendem seus ideais com a própria vida, nós temos horror ao conflito.
Queremos ser amados e resolver tudo na boa e nisso valores, conceitos, gostos, discursos políticos... vão sendo facilmente empurrados goela abaixo pelo topo da pirâmide social.
Não leve a mal, eu amo meu país, mas não dá para negar que não temos tradição, somos influenciados pelos EUA, nossas comidas típicas vieram dos negros e índios... Enfim, nos falta estilo, nos falta personalidade, nos falta coragem pra dizer não para o que não queremos.
Tínhamos futebol. Hoje acho que nem isso.
Temos um sistema de saúde gratuito, em contrapartida temos lugares onde não tem nem energia elétrica.
Lá fora, os estrangeiros acham que vivemos pelados, pulando carnaval o ano inteiro e moramos numa favela no meio da floresta enquanto, na verdade, importamos quase todo o american way of life do Tio Sam e nos transformamos em americanos nascidos no Brasil: gostamos mais dos livros americanos -os Harry Potters, Jogos Vorazes e Crepúsculos da vida- , compramos coisas no Amazon, comemoramos Halloween e St. Patricks Day, adoramos big mac, escutamos Beyonce, compramos carros com air bag, somos fãs de The Big Bang Theory...
É irônico como amamos profundamente a América e eles nem sabem como verdadeiramente somos.
E quem somos? somos uns filhos da mãe que amamos justiça, mas não gostamos de lutar por ela. Expulsamos os índios, os verdadeiros donos dessas terras, impusemos a eles a cultura européia como se fosse melhor, misturamos nossas raças, nossa identidade se fundiu com a dos novos colonizadores e o resultado foi que tudo que nos faz únicos hoje é a nossa mistura racial, nossa falta de cultura particular e nossa facilidade de se influenciar.
Enfim, é passada a hora de vermos que existe coisa boa fora da América e que nós também somos bons.
O  Irã, repressor do jeito que é, faz filmes premiados no Festival de Cannes, tem os tapetes mais famosos do mundo e os bancos não cobram juros... (sem contar as duas HQs que eu supra analisei)
A  Índia, miserável do jeito que é, tem sua própria industria de cinema -a “Bollywood”-,  produz industrialmente tecnologia de ponta e é a número um em cientistas importantes...
E se essas duas nações de recursos e liberdade de expressão tão limitados conseguem enaltecer-se perante o mundo sendo elas mesmas, eu sinceramente espero mais do Brasil.

Conclusão parte III: Apreciar a cultura estrangeira, sim. Submeter-se a ela, não.

Em tempo: O vídeo supra postado é do filme Persépolis, no momento que a Marji canta “Eye of the Tiger” desafinada, charmosa e dhéja.



1 Referência ao poema de Manuel Bandeira chamado “Vou me embora pra Pasárgada” do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Pra não dizer que não falei das flores ♪




Dia 30 de janeiro (que já passou faz tempo) foi o “Dia do quadrinho nacional”
(Levanta a mão quem acha que devia ser feriado? \o/)
É celebrado nesta data porque no dia 30 de janeiro de 1869, estreou a primeira história em quadrinhos brasileira e uma das mais antigas do mundo no jornal “Vida Fluminense”: a série “As aventuras de Nhô Quim, ou Impressões de uma viagem à corte” do autor ítalo-brasileiro Angelo Agostini (1843-1910).
Agostini foi o grande precursor da HQ no Brasil e um dos pioneiros no mundo e seu nome serviu de inspiração não só para o Dia do Quadrinho Nacional, mas também para o Prêmio Angelo Agostini, concedido anualmente pela Associação de Quadrinistas e Caricaturistas de São Paulo aos melhores do ramo.
No dia 02 de fevereiro deste ano, a Gibicon e o livro Last RPG Fantasy foram premiados com o troféu Ângelo Agostini. (a quem interessar possa: A Gibicon é a Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba e o livro Last RPG Fantasy é um livro-jogo em quadrinhos, ideia dos amigos Yoshi, Keiichi e Saito e foi financiado por 196 pessoas através do site catarse http://catarse.me/pt/last-rpg-fantasy-livro-jogo)
Lendo o jornal Gazeta do Povo descobri que Curitiba comemora o dia dos quadrinhos com um evento na gibiteria Itiban Comic Shop e morri de inveja dos curitibanos. E mais: nesse evento reúnem-se para debater as novas publicações independentes, alguns dos mais ativistas quadrinistas curitibanos (sim, existem HQs feitas em Curitiba e há muito tempo. Curitiba teve até uma editora de quadrinhos nos anos 80: a finada Grafipar)
Ou seja, ~para nossa alegria~ muita coisa boa está sendo produzida na seara independente (por independente entenda-se: autores que criam e comercializam suas próprias revistas e livros, que batalham um espaço que não existe nas editoras convencionais, muitas vezes financiando do próprio bolso suas publicações) dois exemplos disso é a Quadrinhópole que começou como revista mix com HQ de vários autores e hoje evoluiu para um dos mais interessantes portais de webcomics nacionais e a HQ “Revolta” do André Caliman que eu estou lendo. Posso até contar um pouco o enredo sem correr o risco de dar spoiler porque a HQ está em construção. Isso porque “Revolta” não tem formato de revista, foi lançada na web em outubro de 2012 e a cada mês o autor disponibiliza um capítulo no site. Até agora tem 4 capítulos.
O cenário que André Caliman escolheu para sua história não só é brasileiro, como é paranaense e a temática é a política e a corrupção, transmitindo uma forte relação com o momento histórico atual e o sentimento partilhado da sociedade brasileira de descontentamento com o poder público. Digo “não só é brasileiro, como é paranaense” porque faz toda a diferença ler uma historia com regionalismos e referências que você entende (nomes fictícios de políticos parônimos aos nomes dos políticos reais, noticiários de TV, palavrões comuns utilizados por paranaenses, etc.), é instigante quando o local que se passa a história é no estado que você mora, numa cidade que você conhece e a linguagem é a mesma que você usa no cotidiano. Lendo a “revolta” você sente familiaridade... Alguns diálogos parecem o tipo de conversa que você tem com os colegas de trabalho, ou com o seu vizinho enquanto espera o ônibus.
Pelo menos pra mim que moro no interior do Paraná, mas estou acostumada com comics americanos da Marvel e DC, essa proximidade é diferente e fascinante.
Tudo começa com cinco amigos (Caboclo, Topete, Animal, Rato e Chéps) que estão alegremente conversando e tomando cerveja no bar Chinasky de Curitiba, enquanto assistem os noticiários na TV.
E a notícia era: “O governador do estado do Paraná acaba de ser assassinado em seu próprio gabinete! Vamos ao vivo direto do Centro Cívico de Curitiba, César...”
Ninguém sabia quem era o assassino, mas Roberto Aragão, o governador, era uma pessoa pública tão conhecida quanto desonesta.
O assassino pareceu ganhar certa simpatia porque seu crime não foi ato isolado de barbárie e sim de revolução, como ficou provado posteriormente com a divulgação do bilhete que ele escreveu e deixou junto ao corpo do governador, explicando que aquilo não se tratava da morte de um “cidadão altamente dispensável” e sim de uma revolta pessoal contra essa “democracia ilusória”, sob a qual se baseia nossa sociedade e que acoberta anos de mentiras, roubos e descaramento por parte dos representantes. O bilhete ainda encoraja os cidadãos a partilharem do seu desejo de mudança e termina afirmando que esse ato de revolta era iminente. “Era só uma questão de tempo. Era só uma questão de coragem. Hoje começa a revolta.”
Ao sair do bar Chinasky, os cinco amigos acabam topando com o assassino do governador ferido por balas de revolver, disparadas pelo segurança do governador. Animal propõe levá-lo para um hospital, mas o homem se recusa e pede que o levem para sua casa, onde acaba morrendo. Lá, na casa dele, encontram um arsenal de armas dentro do sofá, uma “lista negra” no computador sobre políticos envolvidos em esquemas ilícitos, acompanhada de um plano contendo como, quando e onde matar cada pessoa daquela lista e por último a ficha de cada um deles cinco ali presentes, dentro de um envelope, deixando subentendido que o revolucionário facínora tinha esperança que eles continuassem o que ele começou, ao que mais tarde Caboclo, Topete, Animal, Rato e Chéps convenceram-se a fazê-lo.
~Enquanto isso, na polícia federal~ o detetive Amendola começa a investigar a morte do governador Roberto Aragão.
O próximo da “lista negra” era um deputado corrupto que pagava e recebia propina em troca de votos, chamado Roberto Carlos Brando, que deveria ser assassinado no dia 24 de dezembro de 2012. Cumprindo a lista, Caboclo, Topete, Animal, Rato e Chéps vão até o Porto de Paranaguá na data prevista, onde se encontrava o governador comendo caviar e tomando champanhe em seu iate “Brutus” acompanhado de uma prostituta.
Invadindo o iate, Topete, Animal e Rato seguram a prostituta e Caboclo aponta a arma para matar Roberto Carlos Brando, todavia, ele não consegue atirar. Chéps intervém e atira no deputado em seu lugar, mas, acaba tendo uma parada cardíaca por conta de uma overdose e é levado ao hospital.
Detetive Amendola é chamado para analisar a cena do crime e o assassinato do deputado é divulgado nas emissoras de TV.
Os feitos dos cinco rapazes de Curitiba chega à conhecimento público através da divulgação da mídia.
No dia 19 de fevereiro, Topete atira em Mario Américo no desfile da escola de samba de Curitiba, conforme o planejado.
Chéps não estava presente na ocasião porque encontrava-se ainda debilitado e nem Caboclo, que estava hesitante e inseguro devido ao seu fracasso no assassinato de Roberto Carlos Branco no iate e também havia passado a se questionar se o que estavam fazendo era mesmo certo.
Em meio a isso tudo, através de fragmentos de flashbacks, um pouco da história de cada um dos cinco amigos vai sendo revelada (Chéps, um jovem humilde, funcionário de um açougue, que encontra nas drogas a fuga da vida angustiante que leva... Caboclo, um educador, conhecedor de história e de arte, que tenta compartilhar desse saber com seus jovens pupilos...) 
E assim termina o capítulo 5.
Achei interessante desde a ideia até a forma de divulgação. Uma vez que o nome é “revolta” faz lembrar que a maioria das “boas revoltas” começaram assim, com corajosas iniciativas independentes. Tipo as 95 teses de Lutero pregadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, também os músicos da época da ditadura militar brasileira, que driblavam a censura usando linguagem ambígua e chamavam a população para a luta armada contra os ditadores através das letras de suas músicas, etc.
Alerto que minha precária sinopse não faz jus a delícia que promete ser essa obra, nem a sensação de “nossa!” ao final de cada página, adjunta à ansiedade de querer ler mais.
Há que se ressaltar que as produções independentes devem ser valorizadas porque é de fundamental importância para a cultura nacional, principalmente porque o seu acesso é mais fácil e fomenta a diversidade artística sem perder qualidade e originalidade.
To ansiosa pra ler o próximo capítulo da “Revolta”. Quem sabe o prefeito de Cascavel esteja na “lista negra”? Certamente gastar todo o dinheiro público na sua campanha eleitoral e endividar a prefeitura tendo que aumentar o valor do IPTU, o preço do transporte público, cortar o salário dos funcionários, deixar os professores sem reajuste salarial, postos de saúde abertos somente até as 13 horas, já são motivos suficientes.
Sonhar não custa, né?

À quem interessar possa:
Quadrinhópole: www.qdcomics.com

As aventuras de Tintim ♪






Depois que eu escrevi um post de seis páginas (eu vou aprender a escrever menos) sobre o americano Superman, pensei: Porque não escrever sobre o belga Tintim?
Nada a ver uma coisa com a outra, só quis começar o post assim.
Tintim é hipster, é difícil ver fãs dele.
Não porque é ruim, é que ninguém conhece mesmo. E até quem gosta, muitas vezes nem sabe dizer o porquê.
Eu cheguei a ler algumas edições dos quadrinhos, mas só fui procurá-las depois que comecei a assistir os desenhos do Tintim (e só comecei a assistir os desenhos porque passa antes do Dr. Who)
Para conhecer o Tintim, o mais fácil é sintonizar na TV Cultura ali pelas seis e pouco da tarde, onde passa durante a semana o desenho animado, ou assistir o filme do Spilberg que saiu ano passado. Os quadrinhos são muito difíceis de encontrar e não são mais produzidos desde 1983, porque o seu criador, o famoso repórter/quadrinista, belga/francófono Hergé (apelido de Georges Prosper Remi, também conhecido como “Walt Disney europeu”), faleceu em 1983 e não queria que ninguém “adotasse” o personagem.
A obra do Hergé supra mencionada se chama “As aventuras de Tintim” e tem como personagens mais significativos:
Tintim: um garoto de 16/17 talvez 18 anos, cabelo castanho claro com um característico topete estilo calopsita e rosto de bolacha traquinas.
Normalmente veste camisa pólo azul piscina de gola branca e uma calça cigarrete cor cáqui que sensualmente deixa aparecer metade da sua meia ¾ preta. Porém, ele pode variar o figurino de acordo com a região do mundo que está e se vestir pior ainda.
Trabalha como jornalista (para onde ou para quem ele trabalha é uma incógnita, inclusive acho que ele criou suas próprias regras de jornalismo, porque o que ele escreve parece um diário de viagem)
Não tem lar, não sente fome ou sede, não se apaixona, não erra e adora dar uma lição de moral nos seus adversários em todo final de história. É um herói absoluto, de caráter e reputação ilibada, amante da verdade e da razão, além de nobre, audacioso, inteligente e perspicaz por excelência.
A inteligência dele é uma coisa muito chata... ele sempre está envolvido em algum caso de investigação criminosa ou conspiração política e aí ele vai perguntando coisas pra um e pra outro indivíduo, ligando os pontos e no final acaba desvendando todo o mistério da história só com seu raciocínio dedutivo, de modo bem previsível. Estilo Scooby-Doo.
Detalhe: ele sempre acaba amarrado por alguém mais ou menos no meio do episódio e o Milou (seu cachorro) o solta.
Milou: É o cachorrinho Fox Terrier branco do Tintim.
Aliás, cachorro de estimação só, não... ele é o parceiro do Tintim. O Robin dele.
Todo episodio ele o salva ou avisa de algum perigo.
É corajoso, leal, inteligente, aracnofóbico e chegado num whisky “Loch Lomond”. Nos quadrinhos ele “conversa” com o leitor através dos balõezinhos de pensamento  (onde percebe-se que ele é até mais racional que o Tintim)
O mais legal do Milou é que o mundo pode estar acabando, mas ele está sempre acompanhando o Tintim.
É por causa dele que eu assisto e leio As aventuras de Tintim. É o meu personagem favorito. Eu me identifico com ele e não com o protagonista... Não me surpreende nem me encanta a sagacidade e a inteligência do Tintim, mas a parceria e a lealdade do Milou sim.
Capitão Archibald Haddock: Um marinheiro rabugento, beberrão, que fica bravo com frequência, se decepciona fácil e tem péssima memória... porém, possui um coração muito bom.
É o mais simpático dos personagens. Cheio de defeitos humanos e sem nenhuma ambição a super-heroi enfadonho que nunca erra, nem peca.
O que eu acho bonito é que ele é a antítese do Tintim e ao mesmo tempo seu melhor amigo.
Professor Trifólio Girassol: Cientista, gênio, inventor que toda história tem que ter.
E também é surdo...
Os Dupondt: Parecem gêmeos mas não são. Dupond e Dupont são dois agentes da Interpol extremamente estúpidos e atrapalhados.
Bianca Castafiori: uma cantora de ópera que o capitão Haddock despreza.
Sobre a ideologia:
Algumas edições da “As aventuras de Tintim” são objeto de muita controvérsia e polêmica.
Existem pessoas que acusam Hergé  de propagar a violência, maus tratos com animais, colonialismo, anti-semitismo, racismo, nazismo, fascismo e até misoginia (quase não aparece mulheres na série). E outras que o defendem dizendo que foi ingenuidade do autor, que ele só fazia o que mandava o chefe dele, que ele pensava do jeito que todos pensavam na época, etc. Mais tarde ele se defendeu dizendo que não conseguia escapar de alguns preconceitos, devido suas origens sociais e chegou a reescrever muitas das suas obras.
A campeã de críticas e polêmica foi “Tintim no Congo”, que é uma obra bem racista onde, dentre muitos erros, representa os africanos como seres ingênuos e primitivos (até a forma como foi desenhado os africanos é meio ofensiva). A comissão pela igualdade racial conseguiu que sua comercialização fosse proibida em 2007 e no mesmo ano um estudante congolês apresentou uma queixa em Bruxelas alegando que a obra é um insulto a seu povo.
Atitude essa, tão “super hiper politicamente correta” que acaba sendo incorreta porque nessa linha de raciocínio teríamos que parar de comercializar a Bíblia também, alegando que é uma obra preconceituosa com as mulheres e os homossexuais.
Na minha opinião, a ficção não tem esse poder todo, nem a transferência dos exemplos  é tão automática assim. O fato de eu ler uma história de ficção não significa que vou sair por aí reproduzindo um comportamento da ficção. Se fosse assim, bastava escrever livros com histórias boas e puras para que construíssemos uma sociedade perfeita.
Hergé era conservador e direitista, nunca negou.
Talvez esse seja o motivo do personagem Tintim ser tão a favor da obediência as regras e a ordem estabelecida, todavia,  este mesmo personagem também ajudava os menos favorecidos e muitas vezes tomava partido deles.
Há que se considerar que Hergé viajava muito, pesquisava para fazer as historias do Tintim e realmente respeitava as culturas não-européias, mas não pode se perder de vista que a obra dele é fruto de um momento histórico, então é natural que reproduza algumas características do senso comum da época em algumas de suas obras. Ademais, Hergé não é o primeiro a ser recriminado devido a reproduzir em certo momento a ideologia da época e nem vai ser o último. Com Monteiro Lobato (cujos livros “Caçadas de Pedrinho” e “Negrinha”, chegaram a ser alvo de movimentos sociais para que não fossem mais destruídos nas bibliotecas do Brasil) e Jorge Luis Borges (poeta, tradutor, ensaísta, crítico literário e uma das pessoas mais importantes da literatura na América Latina, também tido como racista, aristocrata, elitista e favorável à ditadura na Argentina) aconteceu a mesma coisa.
O que é certo hoje pode ser errado amanhã, novos “certos” podem surgir. Doravante, alguém pode, por exemplo, falar que o escritor uruguaio Eduardo Galeano -que é tão “pop” atualmente- tem preconceito contra os católicos por conta de alguns dos seus textos e é direitista por ter sido contra o impeachment do ex-presidente do Paraguai e por falar bem do Obama, sei lá, tô inventando...
Como diz aquele ditado chinês: Não se deve jogar a água suja da banheira com a criança dentro.
Sobre o legado de Hergé:
O bom em “As aventuras de Tintim” é que o personagem induz a uma curiosidade geográfica.
O enredo é ambientado em países de quase todos os continentes e até fora do planeta, é muito rico em detalhes das culturas, dos lugares e de referências históricas, o que dá a impressão de estar se fazendo uma volta ao mundo com o personagem e aprendendo coisas com ele.
Mas como herança mesmo, Hergé deixou a popularização do estilo de desenho chamado Ligne Claire (linhas claras/democracia de linhas). É aquele tipo de desenho com linhas fortes, traços fortes (com mesma espessura e importância), cores fortes e sem sombreamento.
Andy Warhol utilizou o estilo Ligne Claire e produziu uma série de pinturas tendo Hergé como tema, bem como Roy Lichtenstein também criou pinturas baseadas em fragmentos das histórias de Tintim.
Sobre “As aventuras de Tintim e o segredo do Licorne”:
Spielberg conheceu Hergé em 1983 enquanto estava filmando Indiana Jones e conseguiu a permissão dele para fazer um filme do Tintim. Três meses depois Hergé faleceu e Spielberg teve o perfeccionismo de esperar mais de 20 anos para que o cinema inventasse a tecnologia em animação para produzir um filme com as cores e movimentos que ele queria.
Não gostei muito do filme, porém não tenho o que criticar.
Mas houve críticas. Principalmente daquele tipo de fãs que sempre cobram dos diretores de cinema uma fidelidade radical à obra que foi adaptada, que, na minha opinião, não precisa haver. Teve quem dissesse que foi um estupro a obra de Hergé lá no jornal britânico The guardian.
Particularmente também me incomodei que o nome do Milou no filme era Snowy.  Até nos desenhos animados continua sendo Milou, não sei porque no filme eles colocaram o nome americano que deram pra ele nos quadrinhos. Todavia defendo que fazer um filme não é copiar um livro usando imagem. É claro que é normal comparar a obra (livro/comic/mangá/etc) com o filme quando se trata de adaptações, mas muita calma nessa hora.
Dizer que um livro é melhor que o filme, é o mesmo que dizer que chocolate é melhor que lazanha. Acredito que deve-se  apreciar o prazer de assistir um filme, independente do outro prazer, o de ler um excelente livro e que antes de julgar uma adaptação como boa ou ruim deve-se ter em mente que são duas formas de expressão diferentes e que cada qual tem sua especificidade e seu valor.
Sobre a conclusão:
Enfim, eu gosto mais dos desenhos animados do Tintim do que do filme ou dos quadrinhos.
Achei que seria digno falar de personagens bonzinhos, pois o underground tá tão mainstream que é perigoso eles entrarem em extinção.
Se me perguntarem, eu também digo que prefiro os vilões, os revolucionários, os “faca na caveira”, os errados... e já gostava antes de ser modinha. Sempre me causou mais comoção o motivo que levou pessoas normais a se transformarem em vilões do que a predisposição genética dos mocinhos em serem bons. Também me cativa um cenário menos burguês e mais favelado.
Mas bem como não dá para não ler Adam Smith só porque é marxista, não dá para negar que as aventuras do Tintim são boas só porque ele é um burguesinho chato que nunca tá errado.
Ele é didático, é pioneiro numa certa forma de desenho, é uma celebridade na Bélgica (tendo um museu só pra ele) e é/foi inspiração para muitos quadrinistas e outros artistas.
Se eu fosse professora de geografia da quinta série eu usaria um desenho animado ou quadrinhos do Tintim em algumas aulas como recurso didático...
Nada a ver uma coisa com a outra, só quis terminar o post assim.

Superman ♪




Não é bom quando a gente encontra trezentos mil num casaco antigo? Dizia um tweet do Eike Batista.
Eu, como sou pobre e azarada, vou procurar dinheiro, acho um caderno de segundo grau antigo.
Minha única alegria foi ver que ele ainda tinha os adesivos do superman intactos!
Folheando as primeiras páginas do caderno, li que meu ex professor de história me ensinou que o “heroísmo romântico” nasceu com Ilíada e Odisséia por quatro razões.
Uma delas era a narração mítica e as outras eu não anotei.
Nunca li (e acho que nunca vou ler) Ilíada e Odisséia, mas já li os resumos e assisti o filme com o Brad Pitt e pelo que entendi é mais ou menos assim:
Ilíada relata a saga do herói Aquiles, filho de uma deusa e um mortal, que engendrou a Guerra de Tróia, na qual ele mata Heitor, o filho do rei de Tróia. Tudo porque o príncipe Páris (irmão do Heitor) resolveu dar uns pegas na Helena que era mulher do rei Menelau.
Odisséia narra as dificuldades e tormentos da guerra de Tróia que enfrentou Ulisses, rei de Ítaca (entre elas passar sete anos fornicando com a ninfa Calipso) e seu retorno para casa (depois de dez anos !!!) onde o espera ansiosa e amorosamente sua esposa, Penélope (depois de dez anos ???)
A partir de Homero o mundo não parou mais de escrever histórias de heróis, conflitos e aventuras baseadas na sociedade e no tempo histórico que vivem.
Até que um dia criaram o superman e depois dele todos os outros heróis modernos.
Mas nesses tempos de valorização do vilão, do anti-herói, do revolucionário, dos “vida loka”, do sombrio, do “dark side” e dos “cinqüenta tons de cinza”... anda meio fora de moda o bom e velho herói que veste a cueca vermelha por cima do colan azul.
Não raro, o superman é até criticado por ser irreal, “perfeitinho demais”, mauricinho, convencido, invulnerável.
Sem contar que esses dias eu fui comprar um caderno novo e não tinha do Superman. Só tinha do Batman (sem adesivo).
Confesso que eu tive meus preconceitos quanto a essa invencibilidade dele ...
Como o espartano Dienekes¹ fala: “Se todos tivéssemos as capacidades dos deuses, medrosos seriam tão raros quanto penas em peixes!”
E é verdade, ver o Superman enfrentando raios, meteoritos, explosões, etc. etc., sabendo que ele sairá ileso não causa muita emoção...
Porém, boa parte desse superman é obra dos equívocos editoriais da DC e creio que quem ler outras HQs como Crise nas terras infinitas (Marv Wolfman), All Star Superman (Grant Morrison), ou o meu preferido “Superman: Entre a Foice e o Martelo”² escrita por Mark Millar (nessa minisérie ao invés do foguete de Kal-el cair na América capitalista, ele acaba caindo na Rússia comunista de Stalin, o uniforme dele é cinza e vermelho e ao invés do “S” no peito, o símbolo é um martelo e uma foice) eventualmente vai acabar abrindo o coração e valorizando esse quase esquecido super-herói.
Eu insisto em dizer que todo herói moderno é uma releitura do superman.
Kal-El pode não ter sido o primeiro, mas foi referência pra esse tipo de herói.
Copiando a didática do meu professor do segundo grau, tenho quatro tópicos para defender a primazia do homem de aço:

1)   Super-Übermensch

Vou chutar que cerca de uns 80% dos heróis mais célebres são órfãos.
Não sei se é coincidência ou fruto de uma pesquisa de marketing...
Todo mundo adora ouvir a história de um coitado que não tem pai, ou mãe, ou os dois e se torna poderoso.
Quem não é órfão se comove, quem é se identifica.
(e ambos sonham em receber uma cartinha de Hogwarts)
A realidade é que nem todos os pais adotivos são Martha e Jonathan Kent, tem o Know-how de como educar um filho e estão realmente preparados para integrar outra pessoa a família. A maioria pensa que “amor para dar” é o suficiente e na prática não fazem a menor idéia do que estão fazendo.
Pais adotivos também não são por consequência pessoas altruístas, benevolentes, ajustadas e preparadas. Eles podem ser imaturos e carentes, sem contar que muitos deles desejam um filho para ter alguém em quem depositar amor e receber de volta, ou para ser um “herói” e assim acabam superestimando e enchendo de expectativas a pessoa que adotou, desconsiderando que seu filho é um individuo que não vai necessariamente seguir o roteiro que eles criaram e não vai ser a solução para o vazio interior que a carência deles criou.
Ainda que sejam pais perfeitos e por mais que haja amor em família, a falta dos pais biológicos é uma ferida que sara, mas a cicatriz permanece, mesmo que inconscientemente, bagunçando a psiquê do indivíduo. E se ele não for adequadamente bem criado e preparado para superar isso, a carência afetiva durante a infância pode conduzir a uma deterioração integral da personalidade.
Sorte do menino Kal-el que foi criado pelos melhores pais adotivos desde José e Maria, os pais de Jesus Cristo.
O mérito da perfeição de caráter dele, contudo, não deve ser só dos Kent.
Tem muito mais filho adotivo e filho biológico com pais perfeitos mas que estão perdidos na vida do que se possa imaginar.
Assim sendo, Kal-el é o principal responsável pelo seu carater, um dos motivos pelos quais ele merece o adjetivo de super.
Sabemos que cada pessoa é diferente e existem formas de se lidar com os problemas, minimizando-os até sumirem, mas é difícil alguém com ou até sem esse fardo emocional, construir uma personalidade quase indefectível e que saiba lidar com as dificuldades da vida de maneira imparcial, justa e lógica.
E não só o superman, mas muitos outros heróis possuem uma perfeição que não é humana (nem Kriptoniana) e caráter imaculado demais pra ser verdadeiro.
Mas tá certo, né? pra ver a realidade lê-se o jornal, a gente recorre a ficção é pra sonhar mesmo.
Por isso que eu digo: ele é perfeitinho demais? Até é.
Merece ser criticado por isso? Eu acho que não.
Palavras da minha amiga Vanessa (fã de Smallville) sobre a perfeição do superman: “Ele se fudeu muito na vida até amadurecer e se tornar quem ele é”
Eu concordo. A mensagem que ele transmite para mim é essa: no pain, no gain.
Quanto maior a dificuldade, mais gratificante é a superação.
Quanto maior a superação, maior a força adquirida.
E quanto mais forte se fica, mais forte se é.
Isto posto, a mensagem que o superman passa através da perfeição de pessoa que é o Clark Kent é que todos temos problemas e que independente disso qualquer pessoa pode ser bem-sucedida; desde que de alguma forma ela cure suas feridas, supere a si mesmo e se faça correta pela sua própria vontade.
Nietzsche também falou de um superman (Übermensch) na sua obra “Assim falou Zaratustra”, mas, o superman do Nietzche não é “super” porque tem superpoderes... Para ele um superhomem é qualquer homem que consegue superar a si mesmo e se fazer grande.
Uma vez que no Superman da DC coexistem as duas coisas (superpoderes e superação), pra mim ele é duas vezes super.
Acho válido mencionar que o ”S” no uniforme dele não é de “super” é o brasão da família El. A Louis Lane que assimilou o símbolo a letra S do alfabeto latino e pensou: “Ah, entendi! S... Superman...”
Essa explicação é a que eu mais gosto, mas não é dos quadrinhos da DC, é idéia do Marlon Brando que fez o Jor-el no filme Superman de 1978.
Nos quadrinhos atuais esse “S” é o símbolo kriptoniano para “Esperança”

2) Lar é onde está seu coração

Criado por dois judeus (Joe Shuster e Jerry Siegel), filhos de imigrantes, a primeira edição do superman foi publicada no dia 1 junho de 1938.
E o mundo precisava desesperadamente de um herói que trouxesse esperança nessa época, principalmente os judeus.
Cinco meses depois do lançamento do Superman, no dia 09 de novembro de 1938, em diversos locais da Alemanha e da Áustria, nazistas destruíram todas as lojas, habitações e sinagogas judias.
Naquela noite, 91 judeus foram mortos e cerca de 25.000 a 30.000 foram presos e levados para campos de concentração. 7500 lojas judaicas e 267 sinagogas foram reduzidas a escombros e esse evento foi conhecido como “Kristallnacht” (noite dos cristais).
O Planeta Terra era oficialmente um lugar de injustiças, violência, crime, abuso de poder, etc.
Se Shuster e Siegel estivessem focados e ressentidos sobre o que há de errado nesse mundo por causa dos horrores que o nazismo causou ao seu povo e também desesperançados quanto à um futuro melhor, eles teriam criado o Dr. Manhattan ao invés do Superman.
Digo isso porque Dr. Manhattan (whatchmen), que foi um homem comum chamado Jon Osterman antes de ficar azul e superpoderoso por conta de um acidente em uma câmara de testes durante um experimento de física nuclear, começou a não gostar mais do lugar onde vivia, se tornou alheio à assuntos humanos, incapaz de interagir com outras pessoas e foi embora da Terra indo morar na lua.
Ora, se você não nasceu nesse planeta e consegue sobreviver sem transformar gás carbônico em oxigênio, por que considerar um lugar assim “seu lar”?
Diferente do Dr. Manhattan, que apesar de ter sido humano um dia, passou a desprezar os humanos e o planeta Terra, Kal-El que nunca foi terráqueo e por isso tinha toda desculpa de se tornar um adolescentezinho super cheio de si e ir embora desse planeta, ou explodi-lo quando estivesse de saco cheio de ver coisas como holocausto, violência, corrupção, falsidade, ódio e etceteras, fez o contrário: amou o planeta em que foi criado com seus defeitos e qualidades e sempre transmitiu a mensagem que “lar” é onde está seu coração, onde você amou e se sentiu amado, onde você se sente confortável, o lugar que você arriscaria a própria vida para proteger...
Desistir de algo quando está ruim é fácil.
Ficar para salvar e tentar reconstruir aquilo que tem valor é que é heroísmo.

3)   Infalível, só que não.

Já li por aí várias comparações entre o Superman e Jesus Cristo; algumas até muito bem escritas.
No filme “Superman, o retorno” o diretor Bryan Singer usa e abusa dessa metáfora
( Jor-El (pai biológico) diz ao enviar seu filho a Terra: “Apesar de ser criado como um ser humano, você não é um deles [...] eles poderiam ser um grande povo [...], porém precisam de uma luz para iluminar o caminho [...]”.)
A impressão que eu tenho é que ninguém gostou desse filme porque o superman é esperançoso demais e todo mundo amou o Batman porque é sombrio demais.
Sabe como “Superman o retorno” teria ficado mais “dark” que o Batman? Se ele fosse literalmente uma metáfora da Bíblia e tivesse que matar seu próprio filho para salvar o mundo.
Tem algo mais sombrio e ao mesmo tempo mais generoso e heróico do que sacrificar o próprio filho pela humanidade?
E logo ele que é alienígena?
Não acho que foi um erro fazer Kal-el parecer com Jesus Cristo, acho que foi um erro não ter ido até o fim com isso.
(religiões a parte, J.C. é muito hardcore.)
Assim como a onipotência de Deus é vigorosamente questionada por ateus, a infalibilidade do superman também é, por muitas pessoas:
“Se ele é tão fodão e invencível porque não acaba com a fome no mundo? Por que não caça terroristas? Por que não conserta o buraco na camada de ozônio?Por que não governa a Terra?”         
Muitas edições foram dedicadas a responder essas questões, mas a que mais me convence foi a que eu li numa edição comemorativa dos 70 anos da DC3. Nela contém uma história chamada “Precisa haver um superman?” onde os Guardiões do Universo de OA, uma raça de alienígenas superpoderosos que cumpre o papel de sistema judiciário sideral (e também são líderes da tropa dos lanternas verdes), acreditam que a presença de Superman está tornando os humanos muito acomodados e usando desse subterfúgio  fazem um implante nele para que ele passe a acreditar que sua presença atrapalha o desenvolvimento da humanidade e que ficando na Terra ele impede que ela evolua, aprenda com seus erros e se fortaleça. ~Muito chatiado~ ele começa a se questionar: “Precisa haver um superman?” E saí pelo mundo em busca de respostas e tentando contribuir de maneira construtiva para com a humanidade. Após ponderar sobre o assunto, ele entende que deve sim continuar ajudando seu lar, mas dará chance para a sociedade aprender com seus erros e se curar, como um antibiótico que impede que bactérias se proliferem, mas não as mata, permitindo ao corpo criar imunidade naturalmente.
Por outro lado, em outras histórias vemos que ele não é infalível; não é onipresente, e não só na kriptonita verde reside toda a fraqueza do homem de aço (fraqueza física pode ser, emocional não).
Por exemplo: Ele não conseguiu salvar a cidade de Kandor de ser engarrafada pelo vilão Brainiac (séries Pré-crise nas infinitas terras e Nova Krypton)
Ele não é infalível, ele é inabalável, o que é diferente.
Quando ele falha, ele se qualifica, aprende com seu erro.
A vida e as experiências dele são na verdade, muito parecidas com as nossas.
Ele já foi atormentado pelos seus momentos de vergonha, já foi negligente e não procurou formas de reverter problemas, já deixou deveres pra depois, já se deprimiu e foi se entocar na Fortaleza da Solidão para poder se fortalecer e voltar melhor, já sofreu por perder entes queridos, chorou a perda do seu animal de estimação, etc.
A personalidade dele também não é 100% indefectível.
Ele é tímido.
É complicado traçar um perfil de um personagem clássico dos quadrinhos porque algumas características deles não são imutáveis e de fato mudam de acordo com o tempo, o roteirista, o desenhista, etc.. E como estão há mais ou menos 80 anos  sobrevivendo do sucesso de suas historias, são produtos de mercado como a coca-cola... ou seja: a essência é a mesma, mas a modernidade implica em mudanças na embalagem, uma coisinha ou outra na fórmula, etc.
Por exemplo: o Demolidor tinha a roupa amarela, a Mulher Maravilha já usou saia e o superman era mais “bruto” e agia mais do que pensava.
Em 1940 ele começou a agir mais como detetive e passou a ser cada vez mais humano, porém, o alter-ego do superman, Clark Kent sempre foi excessivamente tímido.
Okay, timidez não é o pior dos defeitos.
Batman é cínico e monossilábico e tá na moda amá-lo e defendê-lo: Ai, ele é assim porque ele é mais inteligente que os outros e não precisa de superpoderes, Noooossaaaaa como ele é foda!
Superman (como Clark Kent) é um caipira coitadinho e não paga de melhor que os outros, todavia, ele É melhor que os outros.

4) Ficcionalmente real

Três exemplos – não-ficcionais- do que o Superman fez pela humanidade:

1) Na série “grandes astros superman” (All Star Superman- Grant Morrisson), em uma das cenas ele salva uma menina que iria se jogar do alto de um prédio4. Algum tempo depois, foi postado na internet o depoimento de uma mulher que estava com depressão e queria se matar, mas decidiu não faze-lo por conta dessa história.
No final ela diz: “Agora estou na faculdade, a melhor da minha classe. Eu tenho amigos. Eu tenho uma vida. E não me importa se ele é um personagem fictício de quadrinhos. Ele continua tendo salvado minha vida.”

2) Em 1946, existia uma rádio novela do herói e através desse programa de rádio o Superman ajudou realmente a derrubar a famosa organização racista Ku Klux Klan.
Houve um arco de 16 episódios em transmissão chamado Clan of fiery cross (Clan da cruz em chamas) onde no final, o superman toma a KKK, prende seus membros e conta em rede nacional o que eles faziam.
O que é interessante é que muito do que era contado na rádio novela eram informações verdadeiras e confidenciais aos membros da KKK.
Tal peripécia foi possível porque o jornalista Stetson Kennedy havia se infiltrado na KKK e repassava as informações para os produtores do programa de rádio que usavam esses dados sigilosos para compor o roteiro da rádio novela.

3) Existe um boato de que a aclamada série Seinfield possui uma referência do superman em quase todos os episódios.
Todas essas referências, encontram-se no site “seinology”. Algumas delas são: tem um imã do Super-Homem colado na geladeira visível de todos os ângulos da cozinha, tem uma estatueta do Super-Homem atrás do som visível da maioria dos ângulos do apartamento e os personagens frequentemente usam termos como “Kryptonita”, "Lex Luthor", “Fortaleza da Solidão”,  “Os Bizarros”, Jimmy Olsen, Aquaman, Homem-Elástico, Homem-Plástico, Lois Lane.

Concluindo: ele não é o número um na minha lista de favoritos, mas na minha opinião, o homem de aço é o maior herói de todos os tempos e ao contrário do que muito hoje se fala, é O MAIS HUMANO.
Nas palavras de Grant Morrison:
“Somos todos super-homens em nossas próprias aventuras, temos nossas próprias fortalezas da solidão para onde nos retiramos, temos nossas próprias coleções de coisas especiais que valorizamos, nossos próprios super animais de estimação, nossas próprias cidade engarrafadas que nos sentimos culpados por negligenciar. Temos os nossos próprios colegas e rivais e Bizarros emaranhados emocionais e amorais que temos que lidar.”
Ainda bem que eu não usei os adesivos do superman do meu antigo caderno.
Tô pensando em algo muito loco pra fazer com eles...
Tipo...
Colar!
Em...
Algum lugar...

Enfim, que venha o novo filme do superman!










¹ PRESSFIELD, Steven. Portões de fogo: um romance épico da Batalha das Termópilas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001

² Superman: Red Son


3 Coleção DC 70 anos: As maiores histórias do Superman. 1º volume. Editora Panini Comics. 2008

4   

sábado, 12 de janeiro de 2013

Era uma vez... ♪





Era uma vez ... E nessa vez, decidiu de vez  trocar o “era uma vez” por:
-É dessa vez!
Uma vez só não usou de sensatez.  E foi preciso só uma vez.
Ponderou que em vez de fazer vez de quem espera a sua vez e se contenta que de vez em vez sempre chega a sua vez, era chegada a hora e a vez do “as vezes” se tornar “de vez”,uma vez que a gente só vive mesmo uma vez.
Aí, foi naquela vez.
Tinha que ser.
Quantas vezes banhou os olhos sob solitária lástima: “Só dessa vez, podia ser minha vez”
Todavia, tão confuso tornara-se tudo.
Estava à vez. Mas certeza não tinha de que aquela vez era a sua...Mesmo se fosse a sua vez, tinha que ser daquela vez? ... Aliás, será que era uma vez?
Em vez de, de vez em quando meditar, perdeu o tino de tanto esperar e querer, como ainda acontece de vez em vez ...
Pois é.
Perdeu o tino e perdeu a vez.
Porém, dessa vez, quando perdeu aquela sua vez, qualificou-se para ganhar a outra sua vez na próxima vez.
Tanto procurou o começo da desejada “sua vez” mas acabou descobrindo  que, por vezes, aquilo que é “de vez” foi escrito não no começo, mas in media res do “Era uma vez...”
Aquela vez perdeu a vez e não vai ser preciso perder mais uma vez.
Era uma vez, aquela vez...