sábado, 17 de novembro de 2012

Carolina ♪






A segunda palavra mais descolada que eu aprendi nas aulas de alemão foi Volkswagen. (a primeira foi Auf Viederssen)
Volk= povo Wagen= carro. Portanto: carro do povo.
Hitler criou a Volkswagen no terceiro Reich e encomendou a fabricação de um carro popular e de baixo custo para o engenheiro Ferdinand Porsche em 1935. Ferdinand o desenhou, criou o primeiro motor refrigerado a ar e fez o logotipo da Volkswagen que na verdade é uma suástica com pequenas alterações.
Mas o que realmente me intriga é a brincadeira do fusca azul: quem, como, quando e por que, um dia avistou um fusca azul e pensou: “olha, um fusca azul! Vou dar um soco no braço da pessoa que esta do meu lado, dizendo “fusca azul” e ela não vai poder fazer nada”. Qual a lógica? Por que azul? Por que fusca? Por que um soco?
A brincadeira do fusca azul consiste em: a pessoa que avista primeiro um fusca azul, possui o direito/dever de dar um soco no braço da(s) pessoa(s) que está(ão) ao lado, pronunciando: “Fusca azul!” e esta(s) deve(m) receber o soco condescendentemente. Apenas.
É só isso mesmo a brincadeira: ver o fusca azul e dar um soco na pessoa do lado.
Assim:
- Fusca Azul! (soc)
Pronto, acabou.
Quem será que inventou isso e porque?
Será que foi Hitler tambem? Ele pode ter pensado: “Pessoal da Volkswagen, atenção: quero uma frota ariana de fuscas. Se eu ver um único fusca azul nas ruas eu vou socar vocês !!” e assim nasceu a brincadeira do fusca azul. 
Era isso que eu me perguntava enquanto tentava ensinar a brincadeira do fusca azul para minha vizinha, Carolina, dentro do  fusca amarelo do meu tio, à caminho do nosso almoço de domingo no Abrigo São Vicente.
Carolina é minha vizinha há quinze anos. Fomos melhores amigas na infância, mas havia muito tempo que eu não conversava com ela.
As vezes nos esbarrávamos nos corredores da universidade quando estávamos na graduação. Esporadicamente também nos víamos na academia e na Dejan Danças onde fazíamos aula de dança aos sábados, mas nunca engrenávamos uma conversa muito longa.
O convite para o almoço surgiu por acaso.
 O pai da Carolina consertou minha TV a cabo semanas atrás e meu tio convidou-o para almoçar conosco num evento beneficente do abrigo São Vicente.
Ele recusou porque já tinha feito planos de viajar com a esposa, mas Carolina aceitou o convite.
Domingo, as onze horas nos encontramos para ir ate o local do almoço e no caminho começamos a conversar sobre a vida, o universo e tudo mais.
Escolhemos assuntos neutros para criarmos empatia enquanto eu lembrava da época em que brincávamos de caça ao tesouro achando pedrinhas no meio da areia, do quanto eu amava o suco natural de maracujá que a mãe dela fazia,  da paixão que compartilhávamos pela família dinossauros.
Teve um natal que ela ganhou um “baby” de pelúcia e um vinil com musicas de natal cantadas pela família dinossauros. Desde então, toda vez que eu ia na casa dela pra brincar, a primeira coisa que a gente fazia era escutar e dançar a nossa musica preferida, que era uma que o baby cantava. O refrão era assim: “É natal... É natal... tempo de felicidade... É natal... É natal... feliz natal de verdade!!” 
Lembrei que ela levava a serio o que eu falava, mesmo que fosse a coisa mais idiota do mundo...
Por exemplo: na minha casa tinha dois pés de goiaba e um de ameixa, onde passávamos a tarde catando frutas e colocando numa sacolinha para comer depois. Foi a partir deste cenario que surgiu a minha teoria da goiaba: “Carol, comer goiaba é uma tremenda judiação com o bicho da goiaba! Porque a goiaba é o mundo do bicho da goiaba e nos estamos comendo o mundo dele. Do mesmo jeito que esse nosso mundo pode ser uma grande goiaba e nós os bichinhos... já pensou se vem alguém algum dia e morde esse mundo com a gente dentro??” Ela concordou e a gente só comeu ameixa por um bom tempo
Hoje discutíamos a ultima eleição.
Descobri que temos mais ou menos o mesmo posicionamento político.
Também descobri que o pé de acácia - onde uma vez um bicho me mordeu e eu fiquei doente e por isso não pude ir ao parquinho no fim de semana - ainda existe no quintal da casa dela... Acho que foi só o que parece ter resistido ao ação do tempo em nossas vidas.
Sorridente e simpática ela me contava que vai casar no mês que vem, falava sobre seu trabalho na Copel, sobre a viagem que ela fez na usina de Foz do Iguaçu, do acidente que presenciou na BR dias atrás..
Meu Deus, ela dirige!
E eu me lembrando dela andando de bicicleta.
 Com rodinhas.
Quase entrei no assunto com ela, para ver se ela se lembrava da nossa infância.
Mas desisti e perguntei outra coisa:
- Carol, você oficialmente é a única pessoa que eu conheço que cursou matemática e se formou em quatro anos... Eu tenho amigos que dizem que se terminar em sete anos é lucro! O que você fez? Mais importante que isso: te ensinaram a resolver um cubo de rubik?
- Hahahahah... na verdade eu levei meio nas coxas... não é tão difícil assim quanto falam. Minha mãe te contou que eu estou fazendo Engenharia na Fag agora? Mas e você? ainda faz academia la na frente da Unioeste? E as aulas de dança na Dejan? Parou?
- Parei. Não dava tempo, nem sobrava dinheiro com essa estória de estudar em Marechal Candido Rondon...
- Eu também parei... mas a Tati, minha prima, lembra? Ta fazendo academia no SESC e disse que é muito bom... por que você não fala com ela? Vocês podem ir juntas
- Vou pensar no seu caso... mas agora que seu pai consertou a TV a cabo, tá tããããooo difícil sair de casa hahahahaah
- Por falar em Tv a cabo, sabe que esses dias eu assisti família dinossauros no Tooncast e lembrei de você, Ana? Lembra de como a gente gostava?
- Nooooooosssaaaaaaa !!!! Se lembro! Você ainda tem aquele vinil, Carol? Por que eu já tentei baixar aquele álbum no 4shared e não consigo.
- É sério? Não né...Ai Aninha, sua tonta!!! hahahhaha
- Carol?
-Hã?
- Fusca Azul!!! (soc)

Marcianos invadem a terra ♪



“(...) Cuidado com a coisa, coisando por aí. A coisa coisa sempre, também coisa por aqui. (...)”
Renato Russo


Fernando “tudovaleapenaseaalmanãoépequena”Antonio Nogueira Pessoa, geminiano, 1,73, ícone da literatura mundial.
Português, filho de um modesto e culto funcionário público que morreu tuberculoso. Após a morte de seu pai, sua mãe casou de novo com um cônsul e ele foi morar na África do Sul.
Após alguns anos, Fernando voltou da África para Lisboa e foi fazer curso de Letras... mas não chegou a terminar o curso.
Antissocial, triste, sem uma graduação completa e ainda assim um dos melhores escritores que o planeta Terra já viu.
Além das obras que ele assinou a autoria, criou heterônimos (Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caieiro, Bernardo Soares...) e escreveu como se fosse outra pessoa.
Interessante é que ~as pessoas do Fernando~ tinham personalidades diferentes também
Ou seja, ele era tão forever alone, mas tão forever alone ... que criou um RPG pra ele mesmo e jogava sozinho.
Awesome, isn’t it?
Com 47 anos de idade, faleceu de cólica hepática por causa do alcoolismo, em Lisboa, dia 30 de Novembro de 1935.
Talvez seja um pouco tarde pra isso, mas escrevi um versinho para homenageá-lo: “batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão... muita gente só te dá valor depois que está dentro do caixão...”
Ok, a rima pode ser pobre de gramática, mas é rica de coração.
Sobre essa parada de ele ser um poeta de enorme valor e morrer achando que era um loser: Acho injusto.
Mas a vida é real e de viés: santo de casa não faz milagre.
Já é mais difícil pra quem esta perto cogitar a hipótese de que você é “mais do que os olhos podem ver” e se você não faz um “marketing pessoal”, não tem experiência em falar muito bem de si mesmo, ou é um pouco pessimista, pior ainda.
As pessoas tendem a achar especial aquilo que brilha de longe, aquilo que é mais misterioso... aquilo que PARECE especial.
Tambem tem que tomar cuidado com essa história de falar mal da própria pessoa publicamente quando se sente frustado consigo: existe 90% de chance das pessoas acreditarem que você não presta mesmo.
Bem, Fernando não teve diploma, nem muitos amigos, também não constituiu familia ...  talvez os brilhantes poemas dele preenchessem essa lacuna, ou talvez não.
Pena que nem dinheiro ele ganhou com isso.
Mas e se ele tivesse se formado em letras como pretendia e se tornado um bom professor?
Marx desejava ser professor universitário.
Se ele tivesse sido bem sucedido nessa profissão, ele provavelmente não seria lembrado.
Mas esse comunista, filho de uma holandesa de sobrenome “Philips” e de um judeu que abdicou do judaísmo para ser advogado, decidiu ser jornalista de um jornal que criticava o rei Frederico Guilherme e o final da historia todo mundo sabe.
Fascinante, se parar pra pensar.
Talvez a mente brilhante do século seguinte seja um colega meu de faculdade, ou o seu Olivio o guarda do campus.
Não conheci “Fernando”, mas tenho a sorte que conhecer “pessoas” (adoro esse trocadilho Fernando/pessoa) fantásticas em vida e quando tenho oportunidade expresso minha admiração por eles.  
(afinal é melhor falar bem deles agora antes que alguem no futuro o faça, não é?)
Uma dessas “pessoas” é o “Fernando” Nascimento.
Quem estuda na Unioeste campus de Marechal Candido Rondon/PR já deve tê-lo visto em reuniões do DCE e em militâncias da UJS, mas talvez não saiba que ele é um exímio rapper.

Adriele é outro alguém de quem sou fã. Ela é uma dessas pessoas que está tentando fazer desse mundo um lugar melhor para todos ... as suas pesquisas no campo da política educacional, somando as muitas outras que esse país produz, contribuem para a compreensão da realidade da educação e servirão de base para as desejadas mudanças.
Mas mesmo que ela não tivesse feito mestrado, mesmo que ela tivesse que colocar o dedão no carimbo para fazer sua assinatura, ela ainda seria igualmente fantástica.
Por que ela é minha amiga há quase nove anos e durante esse tempo ela vem fazendo do mundo um lugar melhor para mim.
Adriele e eu temos em comum uma outra pessoa talentosa.
Em 2008 conhecemos Lucas no curso de pós-graduação.
Um sujeito muito chato, porém muito legal, que nunca foi apresentador de TV mas usa um bordão: “sou negro, pobre, feio, ando a pé e moro longe”
Não falava durante as aulas e só participava de debates quando era realmente necessário (porém escrevia melhor que a metade da turma).
Enfim, por esses e outros motivos ele é uma pessoa muito exclusiva.
Um item de colecionador que Deus fez.
E o talento dele que eu gostaria de enaltecer aqui é o de poeta.
Mesmo que eu só conheça um poema dele.
É que eu realmente gostei desse poema.
Anos atrás, ele e a irmã dele, que é artista plástica, fizeram uma exposição na biblioteca municipal e foi onde ele expôs este:

Poema Quase de Amor

Não acredito que partiu
E a mim desprezou
Você segue seu destino
Enquanto eu sou esquecido
E procuro uma maneira
De preencher a tua falta,
Porém você se foi
Infelizmente é a verdade,
Eu estou sem saída
Te perdi e agora é tarde
Meu coração em aperto
Procura resposta frente a esse momento,
Como foi isso acontecer?
Sem você,
Não vou a lugar algum,
Tento me aproximar
Você não olha para trás
Realmente estou sozinho
E você só quer seguir o seu caminho
Ainda não consigo acreditar
Porém eu sei,
Virão outras em seu lugar
Mas neste momento,
Era você a quem eu mais queria
Apenas você me traria
Uma abundante alegria
Contudo não percebes que existo
E segues tua jornada
Outros olhares atentos te esperam
Não há como negar
Tu és realmente desejada
Estou na grande espera
De um dia melhorar
Quando isso acontecer
Saudade nenhuma sentirei
Será um tempo de lembrança
Onde ao te ver anunciarei:
 - esta "peguei" muitas vezes
Hoje já não mais,
Lotação Eixo Leste-Oeste
Tempo que ficou pra trás

Pessoas que eu nunca conhecerei como Fernando Pessoa são referenciais para mim.
Sorte a minha que outras pessoas que admiro, eu tive a oportunidade de conhecer.
Sabe, não precisa ser gênio para criar coisas e não é porque não somos famosos que somos figurantes na historia do mundo.
Já dizia (cantava) Renato Russo: ♪ Ora, se você quiser se divertir, invente suas próprias canções.. ♪

Quereres ♪



“ Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o coração”
(Eclesiastes 7:3)

“O quereres e o estares sempre a fim, do que em mim é em mim tão desigual”
Caetano Veloso

“A aprendizagem é a nossa vida, desde a juventude até a velhice, de fato quase até a morte; ninguém vive dez horas sem aprender.”
Paracelso


Sabe aqueles filmes de terror onde a menina escuta um barulho suspeito no porão da casa e pensa “Nossa, que barulho estranho! Será que tem um assassino se escondendo na minha casa? Vou lá descer as escadas escuras até o porão, sozinha, pra descobrir...” e você grita pra TV: “que cê tá fazendo criatura acéfala?! cê vai morrêê sua infeliz, chama a polícia !!!”, mas ela acaba sendo assassinada, conforme o previsto?
Essa é a minha vida. E de uma forma extraordinária e simbiótica a garota assassinada e o telespectador insurgido sou eu.
Na verdade, não...
Se a minha vida fosse um filme, seria daqueles que o telespectador tem que raciocinar pra fazer a conexão entre os capítulos.
O cenário seria um mundo imaginário e a narrativa não linear.
A protagonista seria solitária e angustiada, que fundamenta suas ideias através de paradoxo e é severamente vilipendiada pela própria vida, mas pateticamente tenta sobreviver no meio das circunstancias adversas.
Isto posto, tem 90% de chance do roteiro da minha vida ter sido escrito pelo Bergman junto com o Tarantino e daquilo que eu venha chamando de “minha vida” na verdade se chamar: “Bastardos morangos, inglórios silvestres”, ou,  “O sonho de Ana: Kill Bill”
Hitchcock deve ter feito a direção, pois explicaria a eficiencia absurda do clima de suspense que precede a iminente tragédia e se considerassemos “explosões de raiva” uma alegoria para combustão química, eu teria crises nervosas com efeitos especiais produzidos pelo Michael Bay.
Pior que a minha vida nem seria um filme cult...seria um filminho de “sessão da tarde” que todo mundo conhece, porque tem mais gente cagada como eu nesse mundo do que gente normal.
“Ai, coitadinha de mim como eu sofro” Sério, quem nunca viu esse filme?
Tem tanto cagado no mundo, que os biologos e filósofos já redefiniram a taxionomia.
Agora, além de Homo Sapiens, Homo Faber, Homo ludens, homo digitalis, acrescentaram o  Homo cagadus
Mentira, ninguém fez isso.
Mas, fica a dica.
Embora pareça, eu juro que esse não é mais um besteirol emo-gótico-depressivo.
Por favor: não me definam como pessimista, negativa, autodestrutiva, viciada em fluoxetina... (Fiquem, vai ter bolo!)
Não é que eu repulse a idéia de ser pessimista, nem que eu não seja tudo aquilo que eu citei acima... só não gosto da idéia de ser rotulada.
Acho injusto dividir as outras em classes: os otimistas e os pessimistas... os bons e os maus... os certos e os errados...
Como se elas só pudessem ser apenas uma das duas coisas.
Admito que na maioria das vezes me comporto de maneira pessimista.
Como a rainha das pessimistas pra ser mais honesta.
Não uma mera “pessimistinha”, mas uma pessimista schopenhaueriana.
Mas não é por causa da maioria das minhas atitudes que eu vou me definir como pessimista.
Prefiro dizer que sou otimista não-praticante.
Assim, pelo menos a semântica me dá o beneficio da duvida.
Ora essa... otimismo não é só para os fortes.
Todos falam: Nelson Mandela nunca ficou esmureceu na luta contra o apartheid, Ghandi passava semanas sem comer nada e não ficava de mau-humor, Dalai Lama diz que é preciso aproveitar o presente, Lenine canta que é preciso ter paciência, meu vizinho tá sempre sorrindo, o moço do caixa da padaria passou no vestibular pra engenharia ...mas quem derramou café quente na blusa antes de ir pro trabalho, correu pra pegar o ônibus e ainda deu bom dia pro motorista? e quem não reclamou por ter que ficar o horário de almoço trabalhando? Quem? EU!
Mas como as pessoas acreditariam que você é capaz de atitudes otimistas se elas já te rotularam como pessimista?
E vamos dizer que eu seja mesmo pessimista... não posso acordar um dia desses, concluir que isso não serve mais para mim e decidir mudar?
Tem que sempre ter muito cuidado nessa hora porque via de regra, mudar de maneira de proceder com a vida, significa: não ter personalidade, ser volúvel, maria-vai-com-as-outras ...
Uma vez eu planejei ser só otimista.
Mas tive problemas com a produção. Os diretores da minha vida não aceitaram o script...
O meu roteiro começava assim:  “Um dia, a menina Ana Paula sofre um acidente no laboratório das Industrias Boring onde trabalha e é picada por uma espécime rara de aranha chamada Maximus autoajudis. Após a picada, ela sente uma enxaqueca lacerante e intermitente e desmaia acordando somente no dia seguinte.Mas logo que acorda, ela percebe que adquiriu superpoderes: sua auto-estima estava 100 vezes maior que o tamanho normal. O veneno da aranha alterou seu DNA e agora ela possuía disposição para encarar as coisas pelo seu lado positivo e esperar sempre por um desfecho favorável, mesmo em situações muito difíceis.”
O clímax seria na parte que “para proteger Cobra City do desânimo, do fracasso e da tristeza, cuidando sempre que sua identidade permaneça secreta, a pacata Ana Paula subitamente se lança na cabine telefônica, rasga sua camiseta, veste a calcinha por cima da calça e se transforma na... Mulher Otimista!”
E no final ela casava com o mocinho e The End
Versão brasileira Herbert Richards.
Sobem os créditos
Por que não podia ser assim?
Ia ser perfeito.
Mentira, eu não acredito em perfeição.
Para mim, esse senso comum, onde o otimismo é TODO bom e o pessimismo TODO ruim, onde você ou é otimista ou é pessimista, ou é vilão, ou é mocinho...
Isso é tão ficcional quanto adquirir superpoderes.
No “senso incomum” otimismo e pessimismo não devem ser opostos, mas complemetares.
Enquanto o pessimismo alicercia a racionalidade, o otimismo encoraja a agir diante a adversidade...
Como diria Gramsci: o "pessimismo da inteligência" não deve abalar o "otimismo da vontade"
Véi, na boa: eu acho otimismo é uma atitude maravilhosa, mas você tem ser triste pelo menos meia hora por dia para poder ser criativo e outra coisas.
Poderia continuar falando sobre essa adorável dicotomia, mas como tudo que eu defendi superficialmente, está bem melhor defendido e na íntegra nos escritos de Kant, Nietzsche, T.S. Eliot e Tolstoi... então não vou continuar pra não dar spoiler das obras deles.
Mudando da filosofia para a arte, sabe o que eu não entendo? Parece que o pessimista é sempre uma pessoa chata, mas o pessimismo é uma coisa engraçada.
Por exemplo: antes da Funerea, a Diva do Mau-humor, fazer sucesso na MTV, eles tinham um quadro que ficou no ar durante um ano, chamado “O garoto enxaqueca” ou “Migraine Boy” que era um garoto pessimista que queria distância de todos.
Inicialmente era um personagem de quadrinhos criado por Greg Fiering, depois virou um quadro na MTV que tinha muitos fãs.
Minha tirinha preferida é aquela que um garotinho vai até o Garoto Enxaqueca e oferece um guarda-chuva no meio de uma tempestade e ele responde: “Obrigado, prefiro pegar uma pneumonia e morrer”.
Musica pessimista também faz muito sucesso.
Que o digam os emos e góticos que adoram o dark side of the life.
Tem uma banda chamada Get Set Go que faz o pessimismo parecer muito engraçado. Conheço mais gente, além de mim, que dá risada quando escuta algumas musicas deles como: I Hate Everyone ou You’ll Look Beautiful As You Burn.
Resumindo:
Pessimismo = muito legal
Pessimista= muito chato
Got it?
Eu não.
Além de um filme do Bergman feat Tarantino dirigido pelo Hitchcock com efeitos especiais de Michael Bay, minha vida também é uma musica do Caetano Veloso.
Melhor dizendo, não “uma musica” , mas “aquela” musica...
A que não tem o compasso da bateria, nem bonitos riffs de guitarra, nem o romantismo do piano, nem baixo... só tem uma melodia de violão sobreposta a rimas de versos que parecem o desabafo rebelde de alguém que é o oposto do outro alguém.
O nome da música é “Quereres”
É inegável o apreço que a humanidade tem por comparações, alegorias.
Forest Gump dizia que “a vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai pegar”
Charles Chaplin dizia que “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios...”
Para Einstein “A vida é igual andar de bicicleta. Pra manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento...”
Acho que Jesus Cristo que inventou essa moda, quando começou a pregar o Reino de Deus por parábolas.
A propósito: eu acho que a minha vida é um canudo azul vazio.
Em dezembro de 2007, na cerimônia de colação de grau, após a oradora da turma, Adriele, citar Shakespeare e eu jurar que exerceria a minha profissão com ética, o reitor da Unioeste me conferiu o grau de licenciada e me deu um canudo azul vazio pra fazer de conta que ele estava me dando um diploma.
O canudo simboliza que eu aprendi, mas não era o diploma.
Defender que a verdade não é unilateral, que sempre existem mais de um ponto de vista, que a realidade é contraditória e até essa historia de que pessimismo e otimismo são duas faces da mesma moeda... tudo isso e mais estavam simbolizados por aquele canudo vazio e foram o motivo pelo qual eu virei o cordão do capelo da direita para a esquerda depois de recebe-lo.
Gosto mais daquele canudo vazio do que do meu diploma.
Ele me lembra que eu não vou ganhar um certificado toda vez que aprender alguma coisa e que o fato de eu não ver algo, não significa que ele não existe.
E essa é a resposta vencedora de hoje para a famosa pergunta metafisica “quem é você ?”: crônicas de um filme, uma música e um canudo vazio.