domingo, 24 de fevereiro de 2013

Pra não dizer que não falei das flores ♪




Dia 30 de janeiro (que já passou faz tempo) foi o “Dia do quadrinho nacional”
(Levanta a mão quem acha que devia ser feriado? \o/)
É celebrado nesta data porque no dia 30 de janeiro de 1869, estreou a primeira história em quadrinhos brasileira e uma das mais antigas do mundo no jornal “Vida Fluminense”: a série “As aventuras de Nhô Quim, ou Impressões de uma viagem à corte” do autor ítalo-brasileiro Angelo Agostini (1843-1910).
Agostini foi o grande precursor da HQ no Brasil e um dos pioneiros no mundo e seu nome serviu de inspiração não só para o Dia do Quadrinho Nacional, mas também para o Prêmio Angelo Agostini, concedido anualmente pela Associação de Quadrinistas e Caricaturistas de São Paulo aos melhores do ramo.
No dia 02 de fevereiro deste ano, a Gibicon e o livro Last RPG Fantasy foram premiados com o troféu Ângelo Agostini. (a quem interessar possa: A Gibicon é a Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba e o livro Last RPG Fantasy é um livro-jogo em quadrinhos, ideia dos amigos Yoshi, Keiichi e Saito e foi financiado por 196 pessoas através do site catarse http://catarse.me/pt/last-rpg-fantasy-livro-jogo)
Lendo o jornal Gazeta do Povo descobri que Curitiba comemora o dia dos quadrinhos com um evento na gibiteria Itiban Comic Shop e morri de inveja dos curitibanos. E mais: nesse evento reúnem-se para debater as novas publicações independentes, alguns dos mais ativistas quadrinistas curitibanos (sim, existem HQs feitas em Curitiba e há muito tempo. Curitiba teve até uma editora de quadrinhos nos anos 80: a finada Grafipar)
Ou seja, ~para nossa alegria~ muita coisa boa está sendo produzida na seara independente (por independente entenda-se: autores que criam e comercializam suas próprias revistas e livros, que batalham um espaço que não existe nas editoras convencionais, muitas vezes financiando do próprio bolso suas publicações) dois exemplos disso é a Quadrinhópole que começou como revista mix com HQ de vários autores e hoje evoluiu para um dos mais interessantes portais de webcomics nacionais e a HQ “Revolta” do André Caliman que eu estou lendo. Posso até contar um pouco o enredo sem correr o risco de dar spoiler porque a HQ está em construção. Isso porque “Revolta” não tem formato de revista, foi lançada na web em outubro de 2012 e a cada mês o autor disponibiliza um capítulo no site. Até agora tem 4 capítulos.
O cenário que André Caliman escolheu para sua história não só é brasileiro, como é paranaense e a temática é a política e a corrupção, transmitindo uma forte relação com o momento histórico atual e o sentimento partilhado da sociedade brasileira de descontentamento com o poder público. Digo “não só é brasileiro, como é paranaense” porque faz toda a diferença ler uma historia com regionalismos e referências que você entende (nomes fictícios de políticos parônimos aos nomes dos políticos reais, noticiários de TV, palavrões comuns utilizados por paranaenses, etc.), é instigante quando o local que se passa a história é no estado que você mora, numa cidade que você conhece e a linguagem é a mesma que você usa no cotidiano. Lendo a “revolta” você sente familiaridade... Alguns diálogos parecem o tipo de conversa que você tem com os colegas de trabalho, ou com o seu vizinho enquanto espera o ônibus.
Pelo menos pra mim que moro no interior do Paraná, mas estou acostumada com comics americanos da Marvel e DC, essa proximidade é diferente e fascinante.
Tudo começa com cinco amigos (Caboclo, Topete, Animal, Rato e Chéps) que estão alegremente conversando e tomando cerveja no bar Chinasky de Curitiba, enquanto assistem os noticiários na TV.
E a notícia era: “O governador do estado do Paraná acaba de ser assassinado em seu próprio gabinete! Vamos ao vivo direto do Centro Cívico de Curitiba, César...”
Ninguém sabia quem era o assassino, mas Roberto Aragão, o governador, era uma pessoa pública tão conhecida quanto desonesta.
O assassino pareceu ganhar certa simpatia porque seu crime não foi ato isolado de barbárie e sim de revolução, como ficou provado posteriormente com a divulgação do bilhete que ele escreveu e deixou junto ao corpo do governador, explicando que aquilo não se tratava da morte de um “cidadão altamente dispensável” e sim de uma revolta pessoal contra essa “democracia ilusória”, sob a qual se baseia nossa sociedade e que acoberta anos de mentiras, roubos e descaramento por parte dos representantes. O bilhete ainda encoraja os cidadãos a partilharem do seu desejo de mudança e termina afirmando que esse ato de revolta era iminente. “Era só uma questão de tempo. Era só uma questão de coragem. Hoje começa a revolta.”
Ao sair do bar Chinasky, os cinco amigos acabam topando com o assassino do governador ferido por balas de revolver, disparadas pelo segurança do governador. Animal propõe levá-lo para um hospital, mas o homem se recusa e pede que o levem para sua casa, onde acaba morrendo. Lá, na casa dele, encontram um arsenal de armas dentro do sofá, uma “lista negra” no computador sobre políticos envolvidos em esquemas ilícitos, acompanhada de um plano contendo como, quando e onde matar cada pessoa daquela lista e por último a ficha de cada um deles cinco ali presentes, dentro de um envelope, deixando subentendido que o revolucionário facínora tinha esperança que eles continuassem o que ele começou, ao que mais tarde Caboclo, Topete, Animal, Rato e Chéps convenceram-se a fazê-lo.
~Enquanto isso, na polícia federal~ o detetive Amendola começa a investigar a morte do governador Roberto Aragão.
O próximo da “lista negra” era um deputado corrupto que pagava e recebia propina em troca de votos, chamado Roberto Carlos Brando, que deveria ser assassinado no dia 24 de dezembro de 2012. Cumprindo a lista, Caboclo, Topete, Animal, Rato e Chéps vão até o Porto de Paranaguá na data prevista, onde se encontrava o governador comendo caviar e tomando champanhe em seu iate “Brutus” acompanhado de uma prostituta.
Invadindo o iate, Topete, Animal e Rato seguram a prostituta e Caboclo aponta a arma para matar Roberto Carlos Brando, todavia, ele não consegue atirar. Chéps intervém e atira no deputado em seu lugar, mas, acaba tendo uma parada cardíaca por conta de uma overdose e é levado ao hospital.
Detetive Amendola é chamado para analisar a cena do crime e o assassinato do deputado é divulgado nas emissoras de TV.
Os feitos dos cinco rapazes de Curitiba chega à conhecimento público através da divulgação da mídia.
No dia 19 de fevereiro, Topete atira em Mario Américo no desfile da escola de samba de Curitiba, conforme o planejado.
Chéps não estava presente na ocasião porque encontrava-se ainda debilitado e nem Caboclo, que estava hesitante e inseguro devido ao seu fracasso no assassinato de Roberto Carlos Branco no iate e também havia passado a se questionar se o que estavam fazendo era mesmo certo.
Em meio a isso tudo, através de fragmentos de flashbacks, um pouco da história de cada um dos cinco amigos vai sendo revelada (Chéps, um jovem humilde, funcionário de um açougue, que encontra nas drogas a fuga da vida angustiante que leva... Caboclo, um educador, conhecedor de história e de arte, que tenta compartilhar desse saber com seus jovens pupilos...) 
E assim termina o capítulo 5.
Achei interessante desde a ideia até a forma de divulgação. Uma vez que o nome é “revolta” faz lembrar que a maioria das “boas revoltas” começaram assim, com corajosas iniciativas independentes. Tipo as 95 teses de Lutero pregadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, também os músicos da época da ditadura militar brasileira, que driblavam a censura usando linguagem ambígua e chamavam a população para a luta armada contra os ditadores através das letras de suas músicas, etc.
Alerto que minha precária sinopse não faz jus a delícia que promete ser essa obra, nem a sensação de “nossa!” ao final de cada página, adjunta à ansiedade de querer ler mais.
Há que se ressaltar que as produções independentes devem ser valorizadas porque é de fundamental importância para a cultura nacional, principalmente porque o seu acesso é mais fácil e fomenta a diversidade artística sem perder qualidade e originalidade.
To ansiosa pra ler o próximo capítulo da “Revolta”. Quem sabe o prefeito de Cascavel esteja na “lista negra”? Certamente gastar todo o dinheiro público na sua campanha eleitoral e endividar a prefeitura tendo que aumentar o valor do IPTU, o preço do transporte público, cortar o salário dos funcionários, deixar os professores sem reajuste salarial, postos de saúde abertos somente até as 13 horas, já são motivos suficientes.
Sonhar não custa, né?

À quem interessar possa:
Quadrinhópole: www.qdcomics.com

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