sábado, 17 de novembro de 2012

Quereres ♪



“ Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o coração”
(Eclesiastes 7:3)

“O quereres e o estares sempre a fim, do que em mim é em mim tão desigual”
Caetano Veloso

“A aprendizagem é a nossa vida, desde a juventude até a velhice, de fato quase até a morte; ninguém vive dez horas sem aprender.”
Paracelso


Sabe aqueles filmes de terror onde a menina escuta um barulho suspeito no porão da casa e pensa “Nossa, que barulho estranho! Será que tem um assassino se escondendo na minha casa? Vou lá descer as escadas escuras até o porão, sozinha, pra descobrir...” e você grita pra TV: “que cê tá fazendo criatura acéfala?! cê vai morrêê sua infeliz, chama a polícia !!!”, mas ela acaba sendo assassinada, conforme o previsto?
Essa é a minha vida. E de uma forma extraordinária e simbiótica a garota assassinada e o telespectador insurgido sou eu.
Na verdade, não...
Se a minha vida fosse um filme, seria daqueles que o telespectador tem que raciocinar pra fazer a conexão entre os capítulos.
O cenário seria um mundo imaginário e a narrativa não linear.
A protagonista seria solitária e angustiada, que fundamenta suas ideias através de paradoxo e é severamente vilipendiada pela própria vida, mas pateticamente tenta sobreviver no meio das circunstancias adversas.
Isto posto, tem 90% de chance do roteiro da minha vida ter sido escrito pelo Bergman junto com o Tarantino e daquilo que eu venha chamando de “minha vida” na verdade se chamar: “Bastardos morangos, inglórios silvestres”, ou,  “O sonho de Ana: Kill Bill”
Hitchcock deve ter feito a direção, pois explicaria a eficiencia absurda do clima de suspense que precede a iminente tragédia e se considerassemos “explosões de raiva” uma alegoria para combustão química, eu teria crises nervosas com efeitos especiais produzidos pelo Michael Bay.
Pior que a minha vida nem seria um filme cult...seria um filminho de “sessão da tarde” que todo mundo conhece, porque tem mais gente cagada como eu nesse mundo do que gente normal.
“Ai, coitadinha de mim como eu sofro” Sério, quem nunca viu esse filme?
Tem tanto cagado no mundo, que os biologos e filósofos já redefiniram a taxionomia.
Agora, além de Homo Sapiens, Homo Faber, Homo ludens, homo digitalis, acrescentaram o  Homo cagadus
Mentira, ninguém fez isso.
Mas, fica a dica.
Embora pareça, eu juro que esse não é mais um besteirol emo-gótico-depressivo.
Por favor: não me definam como pessimista, negativa, autodestrutiva, viciada em fluoxetina... (Fiquem, vai ter bolo!)
Não é que eu repulse a idéia de ser pessimista, nem que eu não seja tudo aquilo que eu citei acima... só não gosto da idéia de ser rotulada.
Acho injusto dividir as outras em classes: os otimistas e os pessimistas... os bons e os maus... os certos e os errados...
Como se elas só pudessem ser apenas uma das duas coisas.
Admito que na maioria das vezes me comporto de maneira pessimista.
Como a rainha das pessimistas pra ser mais honesta.
Não uma mera “pessimistinha”, mas uma pessimista schopenhaueriana.
Mas não é por causa da maioria das minhas atitudes que eu vou me definir como pessimista.
Prefiro dizer que sou otimista não-praticante.
Assim, pelo menos a semântica me dá o beneficio da duvida.
Ora essa... otimismo não é só para os fortes.
Todos falam: Nelson Mandela nunca ficou esmureceu na luta contra o apartheid, Ghandi passava semanas sem comer nada e não ficava de mau-humor, Dalai Lama diz que é preciso aproveitar o presente, Lenine canta que é preciso ter paciência, meu vizinho tá sempre sorrindo, o moço do caixa da padaria passou no vestibular pra engenharia ...mas quem derramou café quente na blusa antes de ir pro trabalho, correu pra pegar o ônibus e ainda deu bom dia pro motorista? e quem não reclamou por ter que ficar o horário de almoço trabalhando? Quem? EU!
Mas como as pessoas acreditariam que você é capaz de atitudes otimistas se elas já te rotularam como pessimista?
E vamos dizer que eu seja mesmo pessimista... não posso acordar um dia desses, concluir que isso não serve mais para mim e decidir mudar?
Tem que sempre ter muito cuidado nessa hora porque via de regra, mudar de maneira de proceder com a vida, significa: não ter personalidade, ser volúvel, maria-vai-com-as-outras ...
Uma vez eu planejei ser só otimista.
Mas tive problemas com a produção. Os diretores da minha vida não aceitaram o script...
O meu roteiro começava assim:  “Um dia, a menina Ana Paula sofre um acidente no laboratório das Industrias Boring onde trabalha e é picada por uma espécime rara de aranha chamada Maximus autoajudis. Após a picada, ela sente uma enxaqueca lacerante e intermitente e desmaia acordando somente no dia seguinte.Mas logo que acorda, ela percebe que adquiriu superpoderes: sua auto-estima estava 100 vezes maior que o tamanho normal. O veneno da aranha alterou seu DNA e agora ela possuía disposição para encarar as coisas pelo seu lado positivo e esperar sempre por um desfecho favorável, mesmo em situações muito difíceis.”
O clímax seria na parte que “para proteger Cobra City do desânimo, do fracasso e da tristeza, cuidando sempre que sua identidade permaneça secreta, a pacata Ana Paula subitamente se lança na cabine telefônica, rasga sua camiseta, veste a calcinha por cima da calça e se transforma na... Mulher Otimista!”
E no final ela casava com o mocinho e The End
Versão brasileira Herbert Richards.
Sobem os créditos
Por que não podia ser assim?
Ia ser perfeito.
Mentira, eu não acredito em perfeição.
Para mim, esse senso comum, onde o otimismo é TODO bom e o pessimismo TODO ruim, onde você ou é otimista ou é pessimista, ou é vilão, ou é mocinho...
Isso é tão ficcional quanto adquirir superpoderes.
No “senso incomum” otimismo e pessimismo não devem ser opostos, mas complemetares.
Enquanto o pessimismo alicercia a racionalidade, o otimismo encoraja a agir diante a adversidade...
Como diria Gramsci: o "pessimismo da inteligência" não deve abalar o "otimismo da vontade"
Véi, na boa: eu acho otimismo é uma atitude maravilhosa, mas você tem ser triste pelo menos meia hora por dia para poder ser criativo e outra coisas.
Poderia continuar falando sobre essa adorável dicotomia, mas como tudo que eu defendi superficialmente, está bem melhor defendido e na íntegra nos escritos de Kant, Nietzsche, T.S. Eliot e Tolstoi... então não vou continuar pra não dar spoiler das obras deles.
Mudando da filosofia para a arte, sabe o que eu não entendo? Parece que o pessimista é sempre uma pessoa chata, mas o pessimismo é uma coisa engraçada.
Por exemplo: antes da Funerea, a Diva do Mau-humor, fazer sucesso na MTV, eles tinham um quadro que ficou no ar durante um ano, chamado “O garoto enxaqueca” ou “Migraine Boy” que era um garoto pessimista que queria distância de todos.
Inicialmente era um personagem de quadrinhos criado por Greg Fiering, depois virou um quadro na MTV que tinha muitos fãs.
Minha tirinha preferida é aquela que um garotinho vai até o Garoto Enxaqueca e oferece um guarda-chuva no meio de uma tempestade e ele responde: “Obrigado, prefiro pegar uma pneumonia e morrer”.
Musica pessimista também faz muito sucesso.
Que o digam os emos e góticos que adoram o dark side of the life.
Tem uma banda chamada Get Set Go que faz o pessimismo parecer muito engraçado. Conheço mais gente, além de mim, que dá risada quando escuta algumas musicas deles como: I Hate Everyone ou You’ll Look Beautiful As You Burn.
Resumindo:
Pessimismo = muito legal
Pessimista= muito chato
Got it?
Eu não.
Além de um filme do Bergman feat Tarantino dirigido pelo Hitchcock com efeitos especiais de Michael Bay, minha vida também é uma musica do Caetano Veloso.
Melhor dizendo, não “uma musica” , mas “aquela” musica...
A que não tem o compasso da bateria, nem bonitos riffs de guitarra, nem o romantismo do piano, nem baixo... só tem uma melodia de violão sobreposta a rimas de versos que parecem o desabafo rebelde de alguém que é o oposto do outro alguém.
O nome da música é “Quereres”
É inegável o apreço que a humanidade tem por comparações, alegorias.
Forest Gump dizia que “a vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai pegar”
Charles Chaplin dizia que “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios...”
Para Einstein “A vida é igual andar de bicicleta. Pra manter o equilíbrio é preciso se manter em movimento...”
Acho que Jesus Cristo que inventou essa moda, quando começou a pregar o Reino de Deus por parábolas.
A propósito: eu acho que a minha vida é um canudo azul vazio.
Em dezembro de 2007, na cerimônia de colação de grau, após a oradora da turma, Adriele, citar Shakespeare e eu jurar que exerceria a minha profissão com ética, o reitor da Unioeste me conferiu o grau de licenciada e me deu um canudo azul vazio pra fazer de conta que ele estava me dando um diploma.
O canudo simboliza que eu aprendi, mas não era o diploma.
Defender que a verdade não é unilateral, que sempre existem mais de um ponto de vista, que a realidade é contraditória e até essa historia de que pessimismo e otimismo são duas faces da mesma moeda... tudo isso e mais estavam simbolizados por aquele canudo vazio e foram o motivo pelo qual eu virei o cordão do capelo da direita para a esquerda depois de recebe-lo.
Gosto mais daquele canudo vazio do que do meu diploma.
Ele me lembra que eu não vou ganhar um certificado toda vez que aprender alguma coisa e que o fato de eu não ver algo, não significa que ele não existe.
E essa é a resposta vencedora de hoje para a famosa pergunta metafisica “quem é você ?”: crônicas de um filme, uma música e um canudo vazio.



2 comentários:

  1. No meio desse texto, lembrei quando a Lu me disse que não ia com a cara de uma loira que estudava com ela, logo imaginei que era você. Certo dia, com a minha qualidade de ser super desastrada, pexei em você enquanto tu lia o mural e comia um salgado da tia.
    Pedi desculpas educadamente e fui correndo contar pra Lu que quase fiz você voar.
    Mas aí ela me disse que a loira não era você.
    ;*

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. hahahahaahahahahah que engraçado! mari, tive que desistir da facul pq nao tinha transporte e tb desisti do twitter, facebook... só to morando no blog agora .... e vc ? que anda fazendo? vai fazer o concurso do estado?

      Excluir