“ Melhor é a mágoa do que o riso, porque a
tristeza do rosto torna melhor o coração”
(Eclesiastes
7:3)
“O quereres e o estares sempre a fim, do que
em mim é em mim tão desigual”
Caetano
Veloso
“A aprendizagem é a nossa vida, desde a
juventude até a velhice, de fato quase até a morte; ninguém vive dez horas sem
aprender.”
Paracelso
Sabe aqueles filmes de terror onde a menina escuta um
barulho suspeito no porão da casa e pensa “Nossa,
que barulho estranho! Será que tem um assassino se escondendo na minha casa? Vou
lá descer as escadas escuras até o porão, sozinha, pra descobrir...” e você
grita pra TV: “que cê tá fazendo criatura
acéfala?! cê vai morrêê sua infeliz, chama a polícia !!!”, mas ela acaba
sendo assassinada, conforme o previsto?
Essa é a minha vida. E de uma forma extraordinária e
simbiótica a garota assassinada e o telespectador insurgido sou eu.
Na verdade, não...
Se a minha vida fosse um filme, seria daqueles que o
telespectador tem que raciocinar pra fazer a conexão entre os capítulos.
O cenário seria um mundo imaginário e a narrativa não
linear.
A protagonista seria solitária e angustiada, que fundamenta suas
ideias através de paradoxo e é severamente vilipendiada pela própria vida, mas
pateticamente tenta sobreviver no meio das circunstancias adversas.
Isto posto, tem 90% de chance do roteiro da minha vida ter
sido escrito pelo Bergman junto com o Tarantino e daquilo que eu venha chamando
de “minha vida” na verdade se chamar: “Bastardos morangos, inglórios silvestres”,
ou, “O sonho de Ana: Kill Bill”
Hitchcock deve ter feito a direção, pois
explicaria a eficiencia absurda do clima de suspense que precede a iminente tragédia
e se considerassemos “explosões de raiva” uma alegoria para combustão química,
eu teria crises nervosas com efeitos especiais produzidos pelo Michael Bay.
Pior que a minha vida nem seria um filme cult...seria um filminho
de “sessão da tarde” que todo mundo conhece, porque tem mais gente cagada como
eu nesse mundo do que gente normal.
“Ai, coitadinha de mim como eu sofro” Sério, quem nunca viu
esse filme?
Tem tanto cagado no mundo, que os biologos e filósofos já redefiniram
a taxionomia.
Agora, além de Homo Sapiens, Homo Faber, Homo ludens, homo
digitalis, acrescentaram o Homo cagadus
Mentira, ninguém fez isso.
Mas, fica a dica.
Embora pareça, eu juro que esse não é mais um besteirol emo-gótico-depressivo.
Por favor: não me definam como pessimista, negativa,
autodestrutiva, viciada em fluoxetina... (Fiquem, vai ter bolo!)
Não é que eu repulse a idéia de ser pessimista, nem que eu
não seja tudo aquilo que eu citei acima... só não gosto da idéia de ser
rotulada.
Acho injusto dividir as outras em classes: os otimistas e os
pessimistas... os bons e os maus... os certos e os errados...
Como se elas só pudessem ser apenas uma das duas coisas.
Admito que na maioria das vezes me comporto de maneira
pessimista.
Como a rainha das pessimistas pra ser mais honesta.
Não uma mera “pessimistinha”, mas uma pessimista
schopenhaueriana.
Mas não é por causa da maioria das minhas atitudes que eu
vou me definir como pessimista.
Prefiro dizer que sou otimista não-praticante.
Assim, pelo menos a semântica
me dá o beneficio da duvida.
Ora essa... otimismo não é só para os fortes.
Todos falam: Nelson Mandela nunca ficou esmureceu na luta
contra o apartheid, Ghandi passava semanas sem comer nada e não ficava de
mau-humor, Dalai Lama diz que é preciso aproveitar o presente, Lenine canta que
é preciso ter paciência, meu vizinho tá sempre sorrindo, o moço do caixa da
padaria passou no vestibular pra engenharia ...mas quem derramou café quente na
blusa antes de ir pro trabalho, correu pra pegar o ônibus e ainda deu bom dia
pro motorista? e quem não reclamou por ter que
ficar o horário de almoço trabalhando? Quem? EU!
Mas como as pessoas acreditariam que você é capaz de
atitudes otimistas se elas já te rotularam como pessimista?
E vamos dizer que eu seja mesmo pessimista... não posso
acordar um dia desses, concluir que isso não serve mais para mim e decidir
mudar?
Tem que sempre ter muito cuidado nessa hora porque via de
regra, mudar de maneira de proceder com a vida, significa: não ter
personalidade, ser volúvel, maria-vai-com-as-outras ...
Uma vez eu planejei ser só otimista.
Mas tive problemas com a produção. Os diretores da minha
vida não aceitaram o script...
O meu roteiro começava assim: “Um
dia, a menina Ana Paula sofre um acidente no laboratório das Industrias Boring
onde trabalha e é picada por uma espécime rara de aranha chamada Maximus
autoajudis. Após a picada, ela sente uma enxaqueca lacerante e intermitente e
desmaia acordando somente no dia seguinte.Mas logo que acorda, ela percebe que
adquiriu superpoderes: sua auto-estima estava 100 vezes maior que o tamanho
normal. O veneno da aranha alterou seu DNA e agora ela possuía disposição para
encarar as coisas pelo seu lado positivo e esperar sempre por um desfecho
favorável, mesmo em situações muito difíceis.”
O clímax seria na parte que “para proteger Cobra City do desânimo, do fracasso e da tristeza,
cuidando sempre que sua identidade permaneça secreta, a pacata Ana Paula
subitamente se lança na cabine telefônica, rasga sua camiseta, veste a calcinha
por cima da calça e se transforma na... Mulher Otimista!”
E no final ela casava com o mocinho e The End
Versão brasileira Herbert Richards.
Sobem os créditos
Por que não podia ser assim?
Ia ser perfeito.
Mentira, eu não acredito em perfeição.
Para mim, esse senso comum, onde o
otimismo é TODO bom e o pessimismo TODO ruim, onde você ou é otimista ou
é pessimista, ou é vilão, ou é mocinho...
Isso é tão ficcional quanto adquirir superpoderes.
No “senso incomum” otimismo e pessimismo não devem ser
opostos, mas complemetares.
Enquanto o pessimismo alicercia a racionalidade, o otimismo
encoraja a agir diante a adversidade...
Como diria Gramsci: o "pessimismo da inteligência"
não deve abalar o "otimismo da vontade"
Véi, na boa: eu acho otimismo é uma atitude maravilhosa, mas
você tem ser triste pelo menos meia hora por dia para poder ser criativo e
outra coisas.
Poderia continuar falando sobre essa adorável dicotomia, mas
como tudo que eu defendi superficialmente, está bem melhor defendido e na
íntegra nos escritos de Kant, Nietzsche, T.S. Eliot e Tolstoi... então não vou
continuar pra não dar spoiler das obras deles.
Mudando da filosofia para a arte, sabe o que eu não entendo?
Parece que o pessimista é sempre uma pessoa chata, mas o pessimismo é uma coisa
engraçada.
Por exemplo: antes da Funerea, a Diva do Mau-humor, fazer
sucesso na MTV, eles tinham um quadro que ficou no ar durante um ano, chamado
“O garoto enxaqueca” ou “Migraine Boy” que era um garoto pessimista que queria
distância de todos.
Inicialmente era um personagem de quadrinhos criado por Greg
Fiering, depois virou um quadro na MTV que tinha muitos fãs.
Minha tirinha preferida é aquela que um garotinho vai até o
Garoto Enxaqueca e oferece um guarda-chuva no meio de uma tempestade e ele responde:
“Obrigado, prefiro pegar uma pneumonia e morrer”.
Musica pessimista também faz muito sucesso.
Que o digam os emos e góticos que adoram o dark side of the
life.
Tem uma banda chamada Get Set Go que faz o pessimismo
parecer muito engraçado. Conheço mais gente, além de mim, que dá risada quando
escuta algumas musicas deles como: I Hate
Everyone ou You’ll Look Beautiful As
You Burn.
Resumindo:
Pessimismo = muito legal
Pessimista= muito chato
Got it?
Eu não.
Além de um filme do Bergman feat Tarantino dirigido pelo
Hitchcock com efeitos especiais de Michael Bay, minha vida também é uma musica
do Caetano Veloso.
Melhor dizendo, não “uma musica” , mas “aquela” musica...
A que não tem o compasso da bateria, nem bonitos riffs de
guitarra, nem o romantismo do piano, nem baixo... só tem uma melodia de violão
sobreposta a rimas de versos que parecem o desabafo rebelde de alguém que é o
oposto do outro alguém.
O nome da música é “Quereres”
É inegável o
apreço que a humanidade tem por comparações, alegorias.
Forest Gump
dizia que “a vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai
pegar”
Charles Chaplin
dizia que “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios...”
Para Einstein “A
vida é igual andar de bicicleta. Pra manter o equilíbrio é preciso se manter em
movimento...”
Acho que Jesus
Cristo que inventou essa moda, quando começou a pregar o Reino de Deus por
parábolas.
A propósito: eu
acho que a minha vida é um canudo azul vazio.
Em dezembro de 2007, na cerimônia de colação de
grau, após a oradora da turma, Adriele, citar Shakespeare e eu jurar que
exerceria a minha profissão com ética, o reitor da Unioeste me conferiu o grau
de licenciada e me deu um canudo azul vazio pra fazer de conta que ele estava
me dando um diploma.
O canudo
simboliza que eu aprendi, mas não era o diploma.
Defender que a
verdade não é unilateral, que sempre existem mais de um ponto de vista, que a
realidade é contraditória e até essa historia de que pessimismo e otimismo são
duas faces da mesma moeda... tudo isso e mais estavam simbolizados por aquele
canudo vazio e foram o motivo pelo qual eu virei o cordão do capelo da direita
para a esquerda depois de recebe-lo.
Gosto mais daquele
canudo vazio do que do meu diploma.
Ele me lembra que
eu não vou ganhar um certificado toda vez que aprender alguma coisa e que o
fato de eu não ver algo, não significa que ele não existe.
E essa é a
resposta vencedora de hoje para a famosa pergunta metafisica “quem é você ?”: crônicas
de um filme, uma música e um canudo vazio.
No meio desse texto, lembrei quando a Lu me disse que não ia com a cara de uma loira que estudava com ela, logo imaginei que era você. Certo dia, com a minha qualidade de ser super desastrada, pexei em você enquanto tu lia o mural e comia um salgado da tia.
ResponderExcluirPedi desculpas educadamente e fui correndo contar pra Lu que quase fiz você voar.
Mas aí ela me disse que a loira não era você.
;*
hahahahaahahahahah que engraçado! mari, tive que desistir da facul pq nao tinha transporte e tb desisti do twitter, facebook... só to morando no blog agora .... e vc ? que anda fazendo? vai fazer o concurso do estado?
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