domingo, 21 de agosto de 2011

Janie, don’t take your love to town ♪



Fui expulsa de uma aula de biologia.
Aconteceu no dia mais interessante da minha época de “ginasial”.
Era final do ano, já estava aprovada nesta máteria, independente da prova que foi feita na semana anterior, para fechar as atividades do bimestre. Naquele dia, professora Beverly entregava estas provas corrigidas e exigia silêncio.
Mas ninguém conseguia, nem queria ficar em silêncio. A turma toda havia tirado nota baixa e quem dependia desta nota para passar, entrou em desespero e tentava uma negociação com a professora.
Tristeza. Revolta.Alvoroço.Risadas.Súplicas.Reclamações.Conversas....
Também era meu aniversário. Como a sala estava um pandemónio e logo, ninguém prestava atenção em nós, Isabela julgou que aquele era um bom momento para cantar parabéns para mim seguido de “comquemserá”, bater palmas, rabiscar o meu caderno, puxar minha orelha, e me dar um presente.
Ganhei dela um CD do Bon Jovi, álbum Destination Anywhere.
Foi o primeiro CD que tive, que não havia sido escolhido e comprado por mim, na vida! (queria tanto saber o que eu fiz com ele)
Eu e ela éramos fãs de Bon Jovi, portanto fiquei muito feliz (~pirei~) com o presente que ela com todo amor e carinho escolheu já pensando em me pedir emprestado (palavras dela). Até trouxe um discman  para escutar junto comigo no intervalo da aula, as musicas daquele CD  (as gerações mais novas não devem saber ... mas o discman é tipo o tatatatataravô do Mp3. Fisicamente é um objeto redondo, parece uma bolacha trakinas tamanho gigante).
Folheávamos o encarte e discutíamos as músicas, enquanto a professora tentava acalmar a turma. Depois me distraí escutando sozinha uma das faixas no bonito discman, quando, de repente, senti um pedaço do coro do meu braço sendo retirado, como se estivessem me fazendo uma depilação (mentira, nem doeu). Isabela dava risadas sádicas ao meu lado, ostentando em uma das mãos um adesivo dos Animaniacs que ela havia colado em mim antes e arrancara agora, num súbito, para rir da minha expressão de susto e quase-dor.
Era como ela gostava de fazer ~humor~.
Explico: naquela época, uma personalidade da mídia chamada “tiazinha” fazia sucesso.
(Ela trabalhava no extinto programa H da bandeirantes, apresentado pelo Luciano Huck, fazendo depilações em homens e seus trajes consistiam em: calcinha, espartilho, máscara e chibata.)
Isabela à satirizava, utilizando adesivos do seu próprio caderno.Com a prática, ela se tornou bem eficiente: colava o adesivo sorrateiramente no braço da pessoa enquanto ela estava distraída e daí puxava bem rápido duma vez só. Depois ria da cara da vítima quando ela se assustava e gritava “AII”
Desisti de continuar escutando o CD por medo de sofrer um novo atentado e Isabela então me contou que a irmã dela, que morava no Japão, trouxe de lá um despertador de aparência vergonhosa e singular (algo como um galináceo que trajava roupas bregas e usava óculos sem lente) cujo alarme era o responsável por acordá-la toda manhã ao som do cacarejar do toque de alvorada militar. E isto estava sendo o grande problema da vida dela:
“É engraçado quando você escuta a primeira vez, mas acordar todo dia com isso é muito irritante” - dizia a Isa.
Eu devo ter feito cara de “to nem ae” pra ela, porque quase imediatamente após ter argumentado isso, ela achou que seria necessário reproduzir o “toque de acordar cacarejado” do despertador para mim, para que eu me compadecesse de seu dilema. Nisso a professora já tinha conseguido à muito custo acalmar a sala e ia começar matéria nova.
Porém, minha atenção nesse momento, era toda para Isabela, imitando o tal galinho despertador.
Eu ri convulsiva e desesperadamente dela e com ela.
Ela riu convulsiva e desesperadamente dela mesma e de mim rindo dela
Aí começou a ficar problemático: sabe quando você ri tanto, que parece que você foi possuído por alguma coisa (ritmo ragatanga talvez, não sei...)?
Por mais que tentássemos nos controlar, não conseguíamos parar.
A professora, indignada ordenou:
- “Vocês duas, se não pararem de rir, vão pra fora da sala !”
E adivinha só quem teve ~folga~ o resto daquela manhã ?
Ficamos no pátio, num dia muito nublado, comemorando deprimidas o meu aniversario ao som de Bon Jovi e assistindo as pessoas fazendo aula de educação física na quadra de basquete.
No momento ficamos tristes... prevíamos altos sermões disciplinares e nossas familias queimando impiedosamente nossos Cds e camisetas do Nirvana e do Green Day quando soubessem da nossa transgressão disciplinar (sofrimento em vão porque a professora não levou o caso até a direção e em nossos amados lares ninguem nunca soube do ocorrido)
Mas o dia ainda não tinha terminado de ser.... interessante.
À tarde, nós teríamos treino de Handebol.
Vou confessar que nós duas, só começamos a treinar Handebol porque queríamos viajar para os campeonatos, faltar aulas por conta dos jogos, fazer amizades...
Em suma: “para sermos descoladas”
Por que um dia constatamos que somente nosso curso de informática, coleção de gibis e oficina de redação não era o suficiente: a vida estava passando enquanto nós apenas dormíamos, estudávamos e assistíamos a fada Bela na novela caça-talentos ...
Ora, já tínhamos 13 anos!! no ano seguinte estaríamos no segundo grau e nossa vida mudaria para sempre...já não éramos mais crianças ... estávamos envelhecendo.
As outras pessoas estavam aprendendo a tocar violão e dedilhavam more than words, já tinham completado a coleção de tazos, iam jogar em outras cidades, faziam intercâmbio...já estavam com a vida ganha .... E nós? O que nós estávamos fazendo das nossas vidas ?
(Coincidência com os dias de hoje, ou questões ontológicas inerentes a todo ser em qualquer etapa da vida?)
Isabela viria a desistir dois meses depois que começamos, porque ela se decepcionou com o fato de que correr causa transpiração e a bola com a qual se joga handebol estava sempre suja e comprometia sua elegância empoeirando a baby-look colcci dela.
Eu resisti por três meses. Não sei porquê.
Mas naquele dia iríamos as duas treinar.
Saímos da aula, chovia.
Eu e Isabela tínhamos por filosofia de vida esquecer o guarda-chuva.
Mas tudo bem. Tomar banho de chuva era pros fortes... para os valentes de espírito... para os puros de coração... para aqueles cuja energia equivalia a três sistemas solares...
Éramos destemidas.
O problema foi que chovia tanto, que ficava difícil permanecer com o olho aberto e esse foi um dos motivos pelos quais eu tropecei numa placa da loja “O boticário” que ficava há uma quadra do colégio e me esburrachei no chão.
Veja bem: nos muitos anos de amizade com a Isa, eu já a consolei quando ela estava triste, já fiz trabalho de escola, já cuidei das três tartarugas d’agua dela, já dei boa noite para os seus 235 ursinhos de pelúcia (ela me obrigava à isso quando eu dormia na casa dela, era tipo um ritual) Mas se você pedir pra ela te contar algo sobre a minha pessoa, ela vai te contar esse tombo.
Continuava chovendo quando voltamos para o colégio, à tarde, para o treino de handebol.
Eu não queria ir. Chovia, era meu aniversario e eu tinha um CD do Bon Jovi.
Mas fui né ...sou parceira.
Antes não tivesse ido.
Eu jogava de ala esquerda, mas joguei de pivô naquele dia.
O pivô tem que ficar no centro e roubar a bola para o armador. E eu sou pequena. Eu apanho.É tenso.
Só levei pancada, parecia que eu tinha um imã para canelas e cotovelos...apanhei até da bola, se vocês querem saber.
E pra fechar com chave de ouro: o treinador, que estava de juiz, tropeçou durante o jogo e caiu em cima de mim.
Se eu não descolei os meus órgãos internos vitais aquele dia com tanto tombo que eu levei, eu acho que não vai acontecer nunca mais.
A melhor parte daquele treino foi ir embora.
Enquanto isso, Isabela ganhava o dia rindo das minhas desgraças: “Eu sei que você não gostou de jogar de pivô, mas partir pra violência e derrubar o Laércio foi demais hein, Ana Paula!”
De lá, andamos até a casa da Isa, reclamando das nossas misérias, problematizando sobre os principais acontecimentos mundiais, comentando a novela, discutindo sobre quem era melhor: se eram os Backstreet boys ou se eram o Nsync...e elegemos a melhor musica do CD que ela tinha me dado de presente: “Janie, don’t take your love to town”
Sentamos na frente do prédio que ela morava e cantamos emocionadamente:  “♪♫…Janie don’t you take your love to toooownnn ... ♪Ja-nie do-n’t you ta-ke your love to to-oo-own ... ♫ If I’ve got to beg...I’ll beg...  just don’t walk away…♪♫
E por fim, comi brigadeiro que ela fez pra mim e terminei aquele dia escutando meu CD do Bon Jovi.(ai que ódio que eu tenho de mim, por ter perdido esse CD)
Minha memória é muito engraçada: não lembro direito como foi a minha cerimônia de colação de grau, também sou péssima para decorar nome de pessoas ...mas desse dia eu lembro.
Também pudera: Nunca mais tive um aniversário tão repleto de  ~tombos~.
Nunca mais ri tão descontroladamente à ponto de ser expulsa de uma sala de aula.
Isabela mudou-se para Curitiba há uns cinco, ou seis anos atrás.
Se tivesse tido a oportunidade, eu acho que lhe teria dito, mesmo que por brincadeira: “Isa, don’t you take your love to town”, fica aí...você é tão legal...
Mas muito antes disso, já havíamos perdido o contato.
Primeiro pela ausência da presença. Depois pela presença da ausência.
Coisas da vida.
Ano passado ela veio me ver aqui em Cascavel e foi muito mais que bom passar umas horas com ela... e também muito diferente do que costumava ser.
Anos atrás, nos víamos todos os dias e ainda semeávamos a discórdia em casa, por motivos de ~tempo no telefone~.
Hoje, são poucos os assuntos em comum.
Ela não é mais a pessoa aficionada por ursinhos de pelúcia e animais de estimação ... eu não sou mais a pessoa que ela apelidou de “tigrinha” porque era viciada em Sucrilhos Kellogs (aqueles sucrilhos do tigrão do ursinho Puff)
Normal. As pessoas não estão sempre iguais, elas estão sempre mudando...
Ao passo que as circunstâncias também mudam nesse “devagar depressa dos tempos”.
A boa notícia é: Todo nosso passado está salvo em powerpoint na memória ROM das nossas vidas.
As sensações, guardamos como souvenir na estante do coração.
(ou na penteadeira? ♪... Meu amor, essa é a ultima oração....♪ rsrsrs).
E isso é tudo o que realmente importa, no final.
Fico alegre em lembrar e constatar que as lembranças salinam os afetos.
Eu não sei onde está esse CD que ganhei de presente naquele sofrido-aniversário-engraçado...mas por toda vida guardarei esse dia, preservando o laço de fita e o papel bonito no qual foi embrulhado.

4 comentários:

  1. Backstreet Boys é melhor, que dúvida! Sua estória me deu saudade das minhas estórias. Ô adolescência, viu... quando rir de qualquer bobagem era a nossa única preocupação rs...
    =***

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  2. Então resolvemos blogar sobre coisas saudosistas hoje né

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  3. HAHAHAHAHAHAHAHA minha vó me dava os CDs piratas dos Backstreet Boys ^^. No primeiro ano da faculdade eu ouvia música no discman até que juntei meu primeiro salário pra comprar um mp4 que funga até hoje eeee o/

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  4. Que coisa em 2016 lendo isso, parabens muito bem escrito o relato, virei celebridade no colegio por causa desta music a. Resolvi procurar aulas sobre como toca-la e parei aqui pq do nome do blog rsrsrs

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