domingo, 14 de agosto de 2011

Você me faz continuar ♪



            Quando o ilustre senhor Nelson Gallon¹ noticiou a possibilidade de não mais dispormos de seus serviços, meu coração parou. Só voltou à programação normal minutos depois, com os batimentos cardíacos na guitarra solando melancolicamente tears in heaven² enquanto os pensamentos mais tristes acompanhavam balançando de um lado para o outro um isqueiro aceso, as mãozinhas trêmulas.
           Junto comigo, emocionou-se toda a população nelturiana. Todos nós sete.     
          A questão não era só “o que faríamos nós de nossas vidas, por que não dispomos de outro meio de transporte nas mesmas condições, para viajar diariamente para Marechal Candido Rondon, com a finalidade de: estudar na Unioeste”.
          Mentira. A questão era essa sim.
          Todavia, também as futuras gerações teriam à perder com isso, pois, jamais conheceriam a Neltur e a cultura nelturiana, que tem por convenção passar a cada novo passageiro as lembranças dos dias marcantes que vivemos ali. Ou seja, um legado de histórias decairia paulatinamente.
          Sim jovens, porque onde todos vêem haikais de uma van chamada Neltur, nós vemos Ilíada e Odisséia.
          Vou capitular algumas dessas historias:

Capitulo I
A mala perdida

          “Janete³ se descuida e deixa sua tosquice à mostra, perdendo os pertences de um passageiro da Neltur no limbo da BR”.
         Certa vez, um sujeito da Neltur era Pré-cambriana4, colocou sua mala na porta da van5 e Janete, não sei bem como nem porquê, fez com que aquela atravessasse rolando a porta do veículo, indo parar em terras desconhecidas.
         Claro que então, por volta de meia-noite e nossacomotatarde, todos procuravam pela referida mala, e olha que divertido: Ela havia sumido.
Horas depois encontram-na...eu acho.
Mas a historia da mala perdida continua sendo contada. Todo calouro que pergunta ao Nelson quais foram as maiores aventuras que ele já passou nesses anos de viagem, ganha essa história de presente.



Capitulo II
Natal de Luz
  
         Em dezembro de algum ano passado, movidos pelo espírito de Natal, os passageiros tiveram a idéia de enfeitar a van Neltur.
         Foram milhares de pisca-piscas cobrindo o veículo inteiro de luzinhas azuis, verdes, vermelhas, amarelas... fazendo-o parecer uma grande árvore de natal ambulante.
         E houveram boatos de pessoas que viram uma nave espacial colorida trafegando pela BR naquele dia. (PORRRÃÃÃNNN)



Capitulo III
Le Parkour

        Leandro, ou, “Bethânia”como muitos o conhecem, embora hoje esteja afastado por conta das responsabilidades militares, é frequentemente lembrado e no nosso coração será sempre aquele que....
                             NUNCA PARAVA DE FALAR !...... NUNCA !
       Certa vez, Pedro, Eu e Leandro conversavamos no sonolento regresso de Marechal para Cascavel e o assunto era esportes.
        Pedro fazia musculação, academia, praticava Muai-thai, Karate, futebol, bullyng, etc... e dava sua opinião avalizada sobre os diferentes estilos de práticas e exercícios.
        Enquanto desempenhava minha função nesta conversa (estar presente e escutar), Leandro debatia o assunto com Pedro: “Mano, ce tem que fazer Parkour”
Pedro: “Parkour ?”
Leandro: “Sim! É aquela parada que você pula de prédio, de escada, de muros....é bem loko... eu faço, tenho uns amigos que fazem também”
Pedro: “Nossa, que bom.”
Leandro: “Sério, ta certo que já faz tempo que eu não treino ...mas já cheguei a pular de uma altura de 2 metros
(Silêncio. Pedro olha com a sombrancelha sobreerguida para o Leandro em simbólico gesto de ironia, dá um leve tapa no braço dele e depois tomba para o lado, se contraindo todo que nem uma cobra de tanto rir, porém, sem emitir nenhum som... como se doesse algo na barriga)
Pedro: “ Manoooo vc tem 1,70m de altura .... vc pulou um tijolo e fala que fez Parkour?”
Todos Ri. Se não pela história, pela forma como o Pedro ria.
Leandro tanto mais nem falou naquela noite.



Capitulo IV
Os tarados da Neltur

         Nossa fonte de entretenimento e união (as vezes, discórdia) é o aparelho de DVD.
         Atualmente estamos fazendo uma “maratona”  O.C. um estranho no paraíso.
         Sabemos que somos uma família quando chega a hora da música de abertura e todos cantam junto: ♪♫ California here we come, right back where we started from... Californiiaaaaa ....♪♫ Pedro inclusive, grita.
         Maratona O.C. foi sugestão da menina Mariah.
         Uma vez eu e o Ubi sugerimos um filme.
         Eu havia assistido no facebook da Amandoim (@janiejones_) um trecho de um filme chamado “Um pistoleiro chamado Papacu”. Achei graça.
         Primeiro porque era um filme brasileiro, onde o protagonista, zoado que era, com seu sexapeall de Chuck Norris do cerrado, caminhava durante a cena arrastando um caixão e proferia pornografias em todo diálogo.  
         Rindo muito, contei o vídeo que assisti para o menino Ubi, que por sua vez contou para o menino Jean, que por sua vez já havia assistido o filme inteiro.
          Jean relatou muitos spoilers engraçados e bizarros que só fez aumentar nosso interesse ... De tão animados que ficamos, eu e o menino Ubi decidimos que levaríamos
este filme para assistir na Neltur.  Tínhamos que dividir o deleite de assistir esta jóia da sétima arte com nossos irmãos de viagem.
         Enquanto decidíamos quem baixava o filme, qual dia da semana levaríamos, ...  Jean mencionou algo que não demos atenção no momento, mas viríamos a entender o motivo dos seus conselhos depois: “Pelo menos assistam uma vez antes”, “Algumas partes vocês precisam cortar”, “Olha, ele é MEIO pornô”
         Ubi downloadeou o vídeo, colocou no pendrive e trouxe prontinho numa segunda-feira. Alguns contratempos houveram e só fomos assisti-lo na quinta-feira.
Durante este intervalo de espera, fizemos uma excelente propaganda do filme, para que unidos numa só emoção, num só coração, juntos, felizes assistíssemos a sessão Neltur que por nós foi promovida.
        Tudo pronto. Filme no play. Luzes apagadas. Todos de olho na tela.
        Já nos primeiros minutos, assistimos as cenas pornô-suruba-cowboy-estranha-suja-etc,  mais chocantes das nossas vidas. Não as descreverei. Eu nem saberia como.
        Eu olho pro Ubi. Ubi olha pra mim. Eu olho pra frente tampando o rosto com as mãos. Ubi olha pra frente escondendo o riso. Olho pro Ubi. Ubi olha pra mim. Faço um “e agora?” com as mãos e o rosto transparecendo o desespero. Ubi também gesticula um “e agora?”, demonstrando estar sentindo o mesmo desespero e vergonha.
Nelson de súbito pára o filme: “Pessoal, por favor, essas coisas não né ...”
Silêncio sepulcral.
Liniker começa a rir alto, devagar e compassadamente.
Bia: “O Ubi eu até posso entender. Mas você hein Ana? Meu Deus, que decepção”
Pedro bate palmas.
Thaís vira-se para trás lá do banco da frente, rindo, com o dedo em riste apontando na direção minha e do Ubi.
Mariah fica vermelha e ri. Mariah ri como se não houvesse amanhã.
Passaram-se dias, semanas .... até que recuperássemos a dignidade perante todos os demais passageiros que nos estigmatizaram como os tarados da van.



Capitulo V
Os quase quatro aniversários de Mariah

         Nelturianos em geral são descolados e apreciadores de tequila.
         Eu, Liniker e André não nos incluímos nesta regra.Ou QUASE não nos incluímos nesta regra.
         É bem divertido ver os outros chapando.
         Se você é o único sóbrio é ainda mais divertido, porque no dia seguinte você pode trabalhar de memória coletiva, zoando com todo mundo que não se lembra do que fez e do que falou.
         A parte ruim é que você as vezes sofre ameaças de revanche e morre de medo de um atentado surpresa com a finalidade de queima de arquivo.
        Alguém descobriu que a desculpa perfeita para voltar bebendo pra casa e brincando de “quem bebe?”6 é celebrando o aniversário.
         Talvez por isso, Mariah já teve dois aniversários, tem um terceiro marcado e contando ....
Porres memoráveis :
Ubi: No início deste ano, o apelido do Diego (Ubi) foi 446.
Isto porque não conseguíamos achar a casa dele: ele não falava onde morava. Perguntamos inúmeras vezes e tudo o que ele fazia era resmungar “446”

Pedro: Trote dos calouros de história. Pedro bebeu tanto que teve que parar na BR para fazer suas necessidades fisiológicas. Acabou caindo no gramado e dormindo por uns cinco minutos.

Mariah: Mais loca que o Lobão, Mariah desenbestou a MORDER (WTF?!?) todos a sua volta.

Thais: O episodio “oi sede alvorada” merece um capítulo à parte, mas Thais também foi a protagonista do *melhor tombo da van 2011*.Com direito à efeitos especiais da Mariah salvando-a de rachar a cabeça no ultimo segundo.



Capitulo VI
Pedro VJ

              Pedro realmente daria pra um bom VJ (trocadilhos infames: quem nunca)
              Ele preenche os requisitos não só/mas principalmente porque curte música, ou melhor dizendo: curte ecleticamente música, tipo: “Sou fã de Iron Maiden, The Doors, DeadMau5, Mamonas Assassinas, Facção Central, Alexandre Pires, Exaltasamba e Engenheiros do Hawaii.” (alguns eu zoei, não vou dizer quais hahah)
              Mas se a MTV pegasse esse dialogo que tivemos na Neltur, chance alguma ele teria:
                        [Estavamos assistindo o DVD dos titãs]
Ana: Não consigo lembrar o nome daquele careca de boné ali..
Pedro: Também não lembro... mas Titãs é foda né !
Ana: Eu também gosto deles...gosto dessa coisa de não ter só um vocalista...E é interessante que a maioria deles procurou por uma formação diferente, ir além do que só ser integrante de uma banda. Tipo o Paulo Miklos que é diretor, ator,  etc ...
Pedro: É verdade, todos os titãs são foda ...inclusive aqueles que saíram, tipo o FREJAT
Ana: Frejat é do Barão Vermelho, Pedro.
Pedro: Ahhhh é verdade!!! Como é o nome daquele guitarrista mesmo?
Ana : Sei lá ... Nando Reis ?
Pedro: Não....É o ... o.... o...Tony ... TONY GARRIDO !?!
Ana: Tony Garrido nunca foi dos titãs
Pedro: Ah é verdade, Tony Garrido era dos Tribalistas.
Ana: Mano, Carlinhos Brown era do tribalistas, Tony Garrido era do Cidade Negra.
Pedro: Então quem é o Carlinhos Brown??? É aquele dos tribalistas também Ana... É aquele branco, não é?
Ana : Aquele é o Arnaldo Antunes. Carlinhos Brown é negro.
                             ~ Risos histéricos ~







Capitulo VII
Oi Sede Alvorada

         Neologismos são muito bem quistos na nossa Neltur.
         Virna, certa vez, com a van em movimento, saindo de Marechal Candido Rondon, deu por falta do motorista. Nascia o termo “Cadê o Nelson?” como metáfora para “Pergunta obvia, tolerância zero” as in: Como é que um veiculo em pleno tráfego, pode estar sem condutor ?
         Outro neologismo é:  “Oi Sede Alvorada” que é metáfora para: Se alguém bêbado faz alguma coisa sem noção, é nossa obrigação lembrar disso pra sempre.
         Thais, em elevado estado alcoolico, pediu para que parássemos em Sede Alvorada para usar o banheiro. Em êxtase de felicidade e eloqüência ela ordenou á todos nós: “Quando a gente chegar em Sede Alvorada, todo mundo vai gritar bem alto: ‘Oi Sede Alvorada !!!’ , se vocês não gritarem, eu vou ficar muito brava, to avisando”
         Dissemos Oi pra Sede Alvorada, lógico.
         Lógico que continuamos dizendo Oi Sede Alvorada toda vez que passamos por lá... mesmo com a Thais sóbria. Principalmente com a Thais sóbria.




        São muitas as histórias, não relatei nem 1%.
        Contando as idas e vindas, passamos mais de três horas juntos diariamente...Faz as contas de quanto dá isso em um ano!       
        Impossível não ter o que contar. Impossível ser indiferente.
        Você conversa com quem tá do lado. Você pede opinião. Você descobre gostos semelhantes. Você desabafa sobre os trabalhos e provas.Você faz amizades.
         E não raro, o stress, os problemas, agonias, dúvidas, decepções ...tão usuais e comuns na vida pessoal, ou na vida acadêmia, são amenizados no trajeto Cascavel-Rondon
        A gente acaba criando laços com um meio de transporte. Talvez o tempo que gastamos nele que o torna muito importante em nossas vidas...Ou talvez seja só devaneio meu.
        Fato é que enquanto tivermos a Neltur ... A Neltur nos terá.
        Aliviados estamos pela decisão do Nelson de continuar indo até o fim do ano.
        A trilha sonora que antes era : ♪♫Eu fui embora mas eu nunca disse adeus... ♪♫
        Passou a ser:
                                  ♪♫ Eu sei faz tanto tempo
                                        Passamos por muitos momentos
                                        Saber que tenho você me faz...
                                        Me faz continuar ♪♫
        Inclusive, no clipe dessa música do Cachorro Grande, a banda faz tipo um mini-show pra eles mesmos no fundão do ônibus. Sempre sonhei fazer algo assim um dia.
        Fica a dica hein Ubi e Mariah.
        Fica a dica.
      












Nelson Gallon¹: mais conhecido como o motorista da NELTUR- van que transporta humildes aspirantes à historiadores, geógrafos -e eu- de Cascavel para Marechal Candido Rondon.
Tears in heaven²: é a musica mais triste e famosa de autoria do Eric Clapton. Gentchy, o que é aquele solo de guitarra? Sem falar que ele fez a musica pro filho dele que morreu num acidente, etc...
Janete³: Janete é pseudônimo para Lucas, que adquiriu esta alcunha num jogo de baralho, onde ele, bêbado,  chamava  “valete” de “Janete”
Neltur era Pré-cambriana4: meados do ano 2.000
Van5 : Minha mente parece que foi hackeada: à medida que escrevo “van” lembro da Vanessa.
Quem bebe ?6: to com preguiça de explicar a brincadeira, por que eu sei que vou ter que escrever bastante (hahaha).Mentira, eu vou explicar...adoro explicar:
São quatro regras básicas: 1- Mude deu nome com o da pessoa do lado. 2- Escolha uma vítima e encene o dialogo padrão (Fulano bebe. Fulano não bebe. Então quem bebe? Ciclano bebe... e por aí vai). 3- Não erre seu nome (que não é o seu nome, é o nome de outra pessoa conforme regra a brincadeira) 4- Se errar seu nome, beba.
Olha, na prática é mais fácil de entender....eu juro.

6 comentários:

  1. Gentchy EU RI!!! EU RIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!! Como assim a Virna procura pelo Nelson com a van (também sempre penso na Vanessa) em pleno movimento? Hein? kkkkkkkkkkk Conta mais estórias, contaaaaaaaaaa

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  2. NOOOOOSSA! EU FRAGUEI MUITO ESSA NELTUR HAHAHAHAHAHA CACHORRO GRANDE DE TRILHA NELA, AINDA? ANA, SOU SUA FÃÃÃ!!!

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  3. Mas olha que eu lembrei de vc quando coloquei Cachorro Grande ali Mari !!! hahha

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  4. Muito bom esse post Ana, so não ri alto porque agora é madrugada e iria acordar todo mundo...

    :D

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  5. heeein, lembrei hoje do Supernatural, que no começo do ano todos assistiam, e fizeram com que os novatos (tipo eu), se apaixonassem, e agora, toda vez que toca ♪♫ CARRY ON MY WAYARD SON ♪♫ lembro da galera lindia nelturiana!

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  6. Oi...
    Vc sabe se essa Van ainda vai para Marechal? Ou se existe outra?
    Estou indo estudar na Unioeste e preciso se transporte saindo de CVEL.
    Att.
    Maria Goretti
    mariagoretti.milfont@gmail.com

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